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A Pantera Cor-de-Rosa (1963)
Uma brincadeira maluca de crime e diversão.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 9 de Abril de 2022**O nascimento de uma personagem animada.** Este filme deve ter tido muito sucesso quando saiu: é uma comédia animada e cheia de cor e de movimento, com uma história engraçada, boas personagens e uma boa dose de nonsense. No entanto, penso que entrou para a história do cinema por outra razão: por assinalar de forma marcante o nascimento de uma personagem animada que se tornou muito mais popular do que o filme em si: a Pantera Cor-de-Rosa. Ambientado na estância invernal de Cortina d’Ampezzo, a acção centra-se na ameaça de roubo de um famoso e valioso diamante rosado, o Pantera Cor-de-Rosa, propriedade de uma princesa indiana exilada e alvo da atenção de um famoso e eficiente ladrão de jóias, o Fantasma, que não se sabe exactamente quem possa ser. A fim de evitar o roubo, a Sûreté francesa envia para ali o inspector Clouseau, encarregado da missão de vigiar e, se possível, prender o ladrão. Mas o que acontece de facto (e acaba por ser o miolo de grande parte do filme) é uma teia muito intricada e rocambolesca de relações entre personagens, e que tem tanto de engraçado quanto de confuso, à medida que elas se tentam seduzir ou enganar umas às outras. Eu, pessoalmente, senti-me um pouco baralhado, e sinto que tudo isso descentrou o roteiro e lhe tirou foco e solidez. Outro detalhe marcante do filme é o facto de a personagem do inspector, que protagonizaria os filmes seguintes, ser aqui bastante secundária. O elenco conta com presenças fortes e carismáticas, começando com David Niven, que deu vida ao carismático ladrão/‘socialite’ que tem tanto de sedutor quanto de esquivo. Ele é um dos mais sólidos actores britânicos, e um daqueles que realmente encarnava a ideia preconcebida de um inglês impassível, imperturbável, cavalheiro e quase aristocrático. Era, portanto, a escolha certa para interpretar um indivíduo da alta roda que, nas horas vagas, se dedica ao crime de gabarito. Peter Sellers também fez um trabalho excelente como Clouseau, personagem que seria a mais famosa da sua carreira. Claudia Cardinale e Capucine, duas das mais belas e marcantes actrizes daquela época, dão-nos uma dose bem-vinda de beleza e charme feminino. Robert Wagner faz igualmente um bom trabalho, mas é difícil destacar-se entre tantos nomes fortes, e é quem mais fica arredado dos holofotes. O filme, uma produção europeia, aposta bastante numa cinematografia impecável, com boa luz e cor, a que as paisagens nevadas dos Alpes Dolomitas conferem beleza, ainda que o filme não as aproveite tanto quanto poderia ter feito. O filme conta também com bons cenários e figurinos impecáveis, especialmente no que diz respeito às duas actrizes principais. A música não é muito boa, mas podemos ouvir uma canção memorável, *Meglio Stasera*, pela voz de Fran Jeffries. De resto, esta canção recorda-nos a todos que a música italiana tinha, nesta época, grande qualidade e gozava de uma popularidade sólida na Europa. O tema de abertura, assinado por Henry Mancini, tornou-se icónico e uma das músicas mais famosas do cinema. Aliás, a abertura animada do filme é incrível e abriu caminho à figura da Pantera Cor-de-Rosa, que conhecemos do mundo animado e que foi criada para este filme.