Homeland – Segurança Nacional
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Homeland – Segurança Nacional (2011)

02/10/2011 Crime, Drama, War & Politics

76%

Avaliação dos usuários

Sinopse

Um soldado americano a quem acreditavam ter sido morto no Iraque volta depois de oito anos de seu desaparecimento. Mas, depois de sua volta para casa, surgem suspeitas a respeito de ele ser realmente um herói americano ou parte de uma célula adormecida que planeja um ataque terrorista.

Críticas
Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 12 de Dezembro de 2020

**Cotillard torna-se Piaf num filme que ignora ou suaviza boa parte da vida da cantora.** Edith Piaf é seguramente uma das vozes mais inconfundíveis da música do século XX e uma das cantoras mais bem-sucedidas e icónicas da música europeia. A sua vida, de facto, merecia uma adaptação a um filme, mas penso, após o que vi neste filme, que ele nos dá uma visão um tanto quanto branqueada e “santificada” da cantora. Consigo entender que a produção tenha desejado evitar criar polémicas, ou desagradar aos fãs da artista revelando momentos feios e controversos da vida de Piaf, mas acredito que teria sido ousado e interessante fazê-lo. De facto, e em desacordo com este filme, Edith Piaf teve uma vida cheia de momentos sombrios e dolorosos, que o filme opta por ignorar ou por relativizar. Ela nasceu numa área pobre de Paris, numa família desestruturada e com ligações ao Norte de África (a avó de Edith era berbere): a mãe dela era cantora de café, o pai dela era um acrobata e o casamento foi o pior que podia ser, com violência e traições mútuas. A separação levou a mãe de Piaf a tornar-se prostituta e deixar a filha com a avó materna, que era negligente, motivo que levou o pai a levar Piaf para viver no bordel onde a própria mãe trabalha enquanto ele mesmo vai servir na Primeira Guerra Mundial. Só em 1922 é que ele volta para a levar, introduzindo a filha na vida artística e tendo assim forte influência na sua vida. Foi a insistência do pai no casamento que fez Piaf afastar-se e emancipar-se, após várias brigas. Outra coisa que é surpreendentemente pouco falada no filme é a agitada vida amorosa de Piaf, que aos 17 anos foi viver com o namorado e foi mãe, fugindo quase em seguida pelas agressões de que era alvo e passando a viver escondida. Seguiu-se uma disputa no tribunal pela custódia da filha, que Piaf perdeu, tendo a sua filha morrido anos depois. Ferida, talvez mais do que podemos imaginar, Piaf nunca mais casou ou teve filhos, apesar de serem conhecidos os seus numerosos namorados e amantes. Ainda mais impressionante é o facto de o filme dar um “salto” no tempo entre 1938 e 1948, ignorando o que a cantora possa ter feito durante a Segunda Guerra Mundial e a invasão alemã de França. A omissão é tanto mais grave quanto o facto de ela ter tido uma actividade dúbia neste período, a par com uma fulgurante actividade artística, motivos pelos quais foi duramente criticada pelos franceses, chegando até a ser acusada de traição à pátria e de ter colaborado com os nazis. Piaf chegou a defender-se da acusação dizendo que efectivamente colaborou, mas com a Resistência Francesa. Será verdade? Sinceramente não sei e o filme preferiu esquecer o assunto. Mas, ainda que não queiramos ir por esse caminho, temos aqui uma artista que conheceu a fome, a miséria, a degradação social, a violência familiar e doméstica, a dor de perder um filho e de ter um mau relacionamento com o pai e a mãe. Uma vida de lágrimas e sombras que o filme aproveitou muito mal. Apesar disto, temos de admirar a extraordinária capacidade artística de Marion Cotillard, que se soube verdadeiramente transformar e encarnar Piaf. A actriz é relativamente desconhecida fora do meio francófono e tem feito uma carreira sólida, mas discreta. No entanto, esteve arrasadora neste filme e mereceu com toda a justiça o Óscar de Melhor Actriz que lhe foi dado nesse ano pela Academia de Hollywood. O filme conta ainda com a participação discreta, mas eficaz, de Gerard Depardieu, Emanuelle Seigner, Clotilde Courau e Pascal Greggory. Apesar disso, não me senti envolvido. Há algo que falha redondamente neste filme, e que eu penso ser a inabilidade de Olivier Dahan (director e roteirista) para criar uma empatia forte entre a personagem principal e o público. Penso que ele se encostou à sombra da solidez institucional de Piaf e adormeceu, isto é, fez o filme para franceses e para os fãs de Piaf, e não teve em contra outros públicos para quem a cantora pouco significa, mas que poderiam querer ver o filme na mesma. Tecnicamente, foi um filme que cumpriu o que precisava cumprir, mas sem grande brilho. Falta energia e carisma, o que se reflecte numa cinematografia enfadonha e numa duração excessiva de duas horas e meia, em que o filme se arrasta de uma forma quase injustificável. Os cenários são excelentes, assim como os figurinos e maquilhagem (o filme ganhou também o Óscar de Melhor Maquilhagem, o que quer dizer algo) que, com os seus esforços, ajudaram a actriz Cotillard a parecer-se o mais possível com a verdadeira cantora. A banda sonora, como não podia deixar de ser, assenta solidamente em várias canções de Piaf e temas de acordeão.