Vestígios do Dia
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Vestígios do Dia (1993)

05/11/1993 Drama, Romance 2h 14min

74%

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Dos criadores de Howards End

Sinopse

1958. James Stevens (Anthony Hopkins), um homem de idade, em um grande carro antigo começa uma viagem pela Inglaterra em direção ao mar. Por muitos anos ele foi o mordomo-chefe de Darlington Hall, uma famosa casa de campo. Neste época sacrificou sua vida pessoal por vários anos para ter um alto desempenho profissional, reprimindo seus sentimentos e aparentando uma frieza que na verdade não era parte da sua personalidade. Ele está indo visitar Sally Kenton (Emma Thompson), que tinha sido governanta em Darlington e ele não vê há muito tempo. Ele pensa que talvez ela possa ser persuadida a retomar a sua antiga posição, trabalhando para o novo proprietário de Darlington, um congressista americano aposentado. (e Livre - Estimado Livre)

Críticas
Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 25 de Novembro de 2022

**É um excelente filme, ainda que eu discorde da tese sobre a qual foi feito.** No período entre as duas guerras mundiais, o mundo tentou fazer com que não voltasse a haver algo tão destrutivo e traumático como a Primeira Guerra Mundial. Todavia, tais decisões, muito louváveis, mas quiméricas e contrárias à natureza humana, falharam, como sabemos: a Segunda Guerra Mundial ocorerrá apenas alguns anos depois, quase como consequência directa da má gestão da paz, tão arduamente conseguida. Todavia, o Reino Unido (e outros países) procuraram evitar o novo conflito ao preferirem ignorar tudo o que se passava na Alemanha: a inflação de preços, a brutal crise económica, a insatisfação popular, a ascensão do radicalismo nazista e uma retórica cada vez mais brutal, extremada e violenta. Lorde Darlington, a figura central deste filme, é o arquétipo de uma classe política britânica bem-nascida e inteligente, mas profundamente traumatizada pela Primeira Guerra Mundial e mais do que decidida a evitar uma outra parecida a essa. Stanley Baldwin, Neville Chamberlain e uma série de outros políticos pensavam de igual modo e procuraram, por diversos meios, apaziguar e chegar a acordo com Hitler, sendo depois duramente criticados pela forma como o fizeram. A bem dizer, eu não os posso criticar. Só quem nunca viveu uma guerra é que se pode dar ao luxo de não tentar impedir, por todas as formas, que aconteça mais uma, por muito justificáveis e até louváveis que sejam os motivos que a fundamentam. Portanto, começa aqui a discordância de fundo entre a forma como eu penso e a forma como este filme foi pensado e concebido. Muitos, de facto, pensariam que o mordomo da Casa Darlington é a figura central deste filme, e de facto ele é o protagonista e a personagem principal, e é impecavelmente interpretado pelo sempre seguro Sir Anthony Hopkins. Todavia, as acções e o pensamento desta personagem são determinados, estritamente, pela sua lealdade canina ao seu senhor aristocrático, e à casa onde serve. Portanto, se Sua Senhoria pensa de determinada maneira, deve estar certo. E apesar de o filme criticar essa lealdade e falta de independência moral e intelectual, eu prefiro abster-me de o fazer. Como Lorde Darlington, também eu tenho pessoas que me servem, e eu aprendi a apreciar e a valorizar essa lealdade devotada, até porque não podemos, nos dias actuais, meter qualquer um a servir no interior das nossas casas. A lealdade, a honestidade, o respeito e o bom entendimento entre servo e senhor são, mais do que qualquer contracto ou pagamento, a base de um bom relacionamento numa situação assim. Além de Anthony Hopkins, o filme conta com um excelente trabalho de Dame Emma Thompson, a qual faz um bom contraponto com o mordomo: se um é a razão e o tradicionalismo, o outro é a inovação, a quebra das convenções, a emoção. Por isso, eles complementam-se e criam uma boa amizade, apesar de serem muito diferentes e, muitas vezes, não concordarem. O filme faz uma agradável abordagem a este relacionamento, tornando a sub-trama entre ambos um ponto altamente importante da trama geral. O filme conta ainda com boas interpretações de James Fox, Christopher Reeve e Hugh Grant. A nível mais técnico, temos de destacar a escolha dos locais de filmagem, que construíram uma Darlington House fictícia a partir de algumas das mais belas e significativas casas nobres inglesas, o que torna o filme num autêntico passeio por estas peças ímpares de património e cultura. No interior de algumas delas, sente-se ainda o espírito britânico, de cavalheirismo, sobriedade e estoicismo. A cinematografia é o padrão que se usava em 1993 e não traz surpresas, embora o trabalho de filmagem mereça uma nota positiva. Os cenários e, especialmente, os figurinos e os adereços, merecem ser vistos com atenção pela forma como recriam a época. A banda sonora é outro ponto que também merece ser destacado, sendo emotiva e marcante sem se impor de modo estridente.