Filipe Manuel Neto
Escrita em 20 de Setembro de 2021
**Um thriller intenso, com grandes questões morais e dilemas desafiantes.**
Não há dúvida que, para um pai, o maior pesadelo é ver um filho morrer, principalmente se isso é fruto de uma mente pérfida de um criminoso. Mas não sei até que ponto o rapto de um filho é melhor: não se sabe se a criança está viva ou morta, o que lhe aconteceu, se está bem, e toda a incerteza tem o efeito, num pai, de uma verdadeira tortura chinesa. Este filme fala-nos disso, e dos limites e barreiras morais que um pai está disposto a quebrar para reaver uma filha.
O roteiro é extraordinariamente bom, intenso e moralmente desafiante. Não creio ser possível ficar indiferente a uma história tão dramática: enquanto a polícia faz o que pode para localizar a filha desaparecida de Keller Dover, o desesperado pai resolve agir por conta própria e prender e até mesmo torturar aquele que ele pressente ser o culpado, ainda que não tenha provas disso e saiba que está a cometer um crime ao fazê-lo. Entretanto, um detective da polícia continua a investigar, e vai procurando outros eventuais suspeitos.
O filme conta com duas grandes actuações de dois actores consagrados: Jake Gyllenhaal e Hugh Jackman. Os dois brindam-nos com performances poderosas, e a maneira como ambos actuam é impecável, roubando as nossas atenções sempre que aparecem. Além deste duo de actores, o filme conta ainda com boas participações de Maria Bello, Viola Davis, Paul Dano e Terrence Howard. E de facto, não podemos dizer que algum deles fez má figura. Todos estiveram bem e à altura do que lhes foi pedido.
Tecnicamente, é um filme discreto, que deixa que estejamos totalmente atentos à história que vai ser contada, bem como ao desempenho excelente do elenco. Muitas das cenas do filme são durante a noite, e as filmagens nocturnas podem ser desafiantes, mas a cinematografia é muito boa e fez um uso muito inteligente da escuridão, das sombras e dos focos de luz para intensificar o ambiente de tensão que o filme constrói. Os locais de filmagem, os cenários e os figurinos dão também um bom contributo para a construção do panorama global e do ambiente, sem notas destoantes dignas de menção. Os efeitos visuais e sonoros funcionaram bem, mas falta, talvez, um pouco mais de banda sonora, pontualmente.