Os Donos da Rua (1991)
76%
Avaliação dos usuários
Era uma vez no centro-sul de Los Angeles... Não é um conto de fadas.
Sinopse
John Singleton
Diretor, EscritorChester Feldman
ProdutorSteve Nicolaides
ProdutorFilipe Manuel Neto
Escrita em 26 de Dezembro de 2024**Um filme que raia o documentário, onde a realidade é perfeitamente emulada na sua cor fria e dura.** Gostei bastante deste filme, ainda que sinta que não sou exactamente o público-alvo para a mensagem perpassada pelo director/argumentista John Singleton. Sendo eu um europeu que nasceu e sempre viveu num país considerado como um dos mais pacíficos e seguros do mundo, eu não sei o que é a violência e nunca vi um assalto, embora tenha sido roubado por um carteirista habilidoso enquanto estava distraído com uma namorada. As coisas vão mudando, há uma maior sensação de insegurança no meu país e a imigração, ainda que seja benéfica para nós, é um risco calculado, mas nada disso muda o facto que eu não vivi as realidades de que o filme fala e não me sentir tão “tocado” pela mensagem do filme. Apesar disso, eu reconheço que a realidade das cidades americanas é dura e que certas comunidades, como os latinos e os negros, são ostracizadas por uma maioria branca, de herança anglo-saxónica, que prefere ignorar o grande contributo que uns e outros trazem para a riqueza cultural e económica dos EUA. Basta que relembremos que os latinos e os negros são mais facilmente vítimas de violência excessiva por parte da polícia, que tende a observá-los com indisfarçável desconfiança, na esteira daquelas ideias estúpidas de que certas etnias e culturas são mais propensas a agir fora da lei. Enfim, eu podia reflectir por horas acerca destes temas e de toda a espiral de violência que o filme nos convida a ver, e que nos agonia profundamente, mas penso que vale a pena que cada um faça a própria reflexão sobre o que este filme nos mostra. A trama é verdadeiramente intensa e explora magnificamente a realidade violenta em que vivem muitas comunidades negras americanas. Violência gera violência, e as crianças do começo do filme terão a sua vida totalmente destruída pela realidade cruel em que vivem, à medida que vão transitando para a vida adulta. O filme destaca aqui dois assuntos que merecem análise. O primeiro é a importância da entreajuda e solidariedade: estando todos na mesma realidade, não adianta voltarem-se uns contra os outros. O segundo é a enorme importância da família e da orientação parental na transmissão de valores e carácter moral às crianças: de todas as crianças no filme, as únicas que terão melhor sorte serão as que a vida bafejou com figuras paternas merecedoras desse nome. Como diz o povo, a educação que se traz de casa é sempre a melhor. Cuba Gooding Jr., ainda bastante jovem, assegura-nos uma liderança forte e carismática, e dá grande credibilidade à sua personagem. Laurence Fishburne é fundamental para a mensagem do filme, mas a sua personagem tem tiques de pregador evangélico e isso é a única crítica que lhe posso fazer. Ice Cube, um actor que nunca valorizei muito, está bem aqui e dá-nos um dos seus melhores trabalhos. Morris Chestnut também não fica atrás. A nível técnico, acho que vale a pena destacar o trabalho de filmagem, quase raiando um documentário, em que a câmara quer dar-nos a perspectiva mais real do que nos é exibido. O trabalho de edição também merece um louvor, bem como a escolha dos cenários, carros e figurinos. É uma reprodução fidedigna da realidade da vida. Também gostei da maneira como a banda sonora se rende às sonoridades suburbanas e ao “hip hop”, trazendo toda a cultura de gangues para enriquecer a nossa visão e aumentar a verosimilhança.
5000 Caracteres Restantes.