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Os 12 Macacos (1995)
O futuro é história.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 16 de Novembro de 2022**Um excelente filme de sci-fi que merece a nossa atenção.** Não sabia bem o que esperar quando este filme passou na TV, muito recentemente, mas fiquei realmente colado ao aparelho até ao final graças a uma história verdadeiramente absorvente e a uma colecção de grandes actores que fazem um excelente trabalho. Não conheço muito bem o director Terry Gilliam, só vi um ou dois filmes dele até agora (sem contar com este filme), mas começo a compreender um pouco a sua estética. Todavia, reconheço que o surrealismo, de que o director é adepto, e a bizarria do roteiro podem, realmente, dificultar a compreensão da obra. O filme começa por nos mergulhar num mundo profundamente distópico, onde a Humanidade foi quase extinta por uma pandemia. Como a doença vem de um vírus que se espalha pelo ar, e que foi propositadamente libertado, os sobreviventes mudaram-se para abrigos sob o solo. A tecnologia, porém, evoluiu e permite o envio de crononautas (isto é, viajantes no tempo) ao passado, a fim de conseguir obter amostras puras do vírus, passíveis de serem usadas no fabrico de uma vacina ou medicamento. É assim que James Cole, um criminoso, é escolhido para a viagem no tempo a troco do perdão dos seus crimes. A missão dele não é alterar o passado impedindo a libertação do vírus, mesmo que ele pareça desejar fazê-lo. A missão consiste em localizar os responsáveis e passar todas as informações para o futuro, a fim de ser enviado outro agente que irá recolher as amostras. Mas ele sabe apenas que os responsáveis foram um grupo ambientalista radicalizado, o Exército dos Doze Macacos. Enviado por acidente para 1990 (em vez de 1996), acaba num manicómio onde irá fazer amizade com o maníaco Jeffrey Goines e cativar a simpatia da Dra. Railly. O filme aborda temas muito complexos, como as viagens no tempo, os paradoxos temporais, a impossibilidade de modificar o passado, e até mesmo a loucura, a ténue diferença entre o real e o imaginário, ou entre a sanidade e a demência. Tem vários avanços e recuos temporais e é preciso estar atento, mas o que mais intriga os espectadores é o seu final, estranhamente súbito e confuso. Eu compreendi-o bastante bem, e acho que basta estar com atenção ao filme para se entender tudo, mas vou deixar uma pista para ajudar: os olhos do protagonista e os olhos da criança que vemos no fim do filme são exactamente iguais, e o que ela vê coincide na perfeição com um sonho recorrente que atormenta o protagonista, vindo do futuro. Não digo mais nada. Adorei a interpretação de Brad Pitt neste filme. O actor, muito habituado a papeis de galã onde possa usar e abusar do seu charme natural, está quase irreconhecível aqui. Claro, mais jovem e menos experiente, mas igualmente impecável. Não sei até onde a participação neste filme teve influência no seu aprendizado como actor, mas acredito que terá sido útil a Pitt. Bruce Willis é igualmente um actor que merece destaque positivo pelo seu trabalho aqui. Ele parece mesmo confuso, e em muitas cenas ele consegue dar à personagem a sensação de que ela se abandona ao decorrer dos acontecimentos, lutando contra isso sempre que sente perigar a sua missão. A performance de Madeleine Stowe não foi tão feliz: sem deixar de ser francamente positiva, é a menos interessante e a mais convencional. Tecnicamente, o filme é impecável. Gilliam aproveita inteligentemente os cenários e os figurinos e faz um futuro verdadeiramente estranho, bizarro, com aqueles fatos de protecção plásticos e aquela bola nas cenas de interrogatório. É um mundo feio que não queremos ver um dia. Gostei especialmente da cinematografia, e da forma como o director trabalha as filmagens de maneira a tornar tudo ainda mais surreal e estranho. Por exemplo, a cena na escadaria da mansão do pai de Goines, que tem tanto de elegante e majestoso quanto de labiríntico e onírico. Além dos bons efeitos, o filme conta ainda com uma banda sonora muito eficaz.