O Bom Pastor

O Bom Pastor (2006)

11/12/2006 Drama, História, Thriller 2h 47min

63%

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A história não contada da agência secreta mais poderosa do mundo.

Sinopse

Marcado pelo suicídio do pai, jovem ingressa em sociedade secreta na universidade e depois vira agente de inteligência do governo americano. Mas, para obter sucesso no trabalho, acaba sacrificando a vida pessoal e a família.

Críticas
Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 22 de Agosto de 2021

**Damon, De Niro e Amigos, num filme de espionagem estiloso, de narrativa lenta.** Com diz a Bíblia, o bom pastor conhece as suas ovelhas e guarda-a zelosamente. É precisamente o que a CIA tenta fazer, e o que tentou o protagonista deste filme, apesar de ter esquecido por completo a sua vida pessoal, que se vai desmoronando gradualmente à medida que o tempo vai passando e as missões exigem cada vez mais de si mesmo. Robert De Niro é um actor notável, mas não o conhecia como director pelo simples facto de que só dirigiu dois filmes (este e outro). Mesmo assim, reconheço-lhe capacidade. Não é um filme perfeito, falta noção de ritmo e a edição podia ter sido mais ambiciosa e cortado minutos a mais. Mas gostei do que vi. O roteiro é muito bom e conta-nos a história de Edward Wilson, um jovem brilhante, formado nas melhores academias, com uma mente afiada, personalidade quieta e extraordinariamente discreto e calado. Por todas estas características, é recrutado para a Inteligência Militar nos anos mais intensos da Segunda Guerra Mundial, passando depois para a CIA, organização que está nos seus inícios e vai ser decisiva nos anos seguintes, durante o período da Guerra Fria. Ele é bom no que faz, torna-se cada vez mais importante no seio do serviço secreto. Porém, a sua vida pessoal é diferente: preso a um código pessoal de honra, abandona o seu amor para casar com uma mulher que não conhece, mas que está grávida dele. Anos depois, assume grande relevância na fracassada Baía dos Porcos. Alvo das suspeitas dos seus superiores, vai procurar o delator que comprometeu a operação. O filme conta-nos uma excelente história, mas há pontos menos bem executados: o primeiro de todos é a noção da passagem do tempo: não conseguimos perceber bem o que ocorre nos anos de 1940 e o que acontece depois, em 1950 e 1960. Faltam elementos que nos ajudem a ir percebendo esses avanços e recuos temporais, e o rosto inexpressivo de Matt Damon, sempre igual, também não ajuda, como se a personagem fosse incapaz de envelhecer. Outro problema que senti é o ritmo lento e moroso do filme, com cenas inexplicavelmente prolongadas. Muitos minutos poderiam ter sido cortados na mesa de edição. Matt Damon é um bom actor e consegue um excelente trabalho neste filme, um pouco a fazer o contraponto às personagens fortes e carismáticas de acção que o actor fez por essa altura da sua carreira, como na franquia *Bourne* e em *Entre Inimigos*. Aqui, ele é discreto, reservado e silencioso, e consegue realmente aguentar o filme praticamente sozinho. O restante elenco só aparece quando precisa, mas a força de De Niro e Damon deve ter sido suficiente para chamar ao elenco um enorme rol de estrelas de renome, com créditos firmados e trabalhos anteriores com um, com outro ou com ambos os actores: Alec Baldwin, Joe Pesci, Michael Gambon, William Hurt, John Sessions, Eddie Redmayne, Oleg Stefan e Tammy Blanchard, só para nomear alguns actores que aparecem neste filme, ainda que seja para apenas um par de boas cenas. Todos vão dando o seu contributo, ainda que modesto, sempre de maneira honrosa. Quem me parece um pouco destoante aqui é Angelina Jolie. Ela tem mais do que um par de boas cenas, mas parece estar a tentar ao máximo sobressair e chamar a atenção. Posso estar a julgar erradamente, mas foi o que eu senti enquanto a via trabalhar. Tecnicamente, é um filme contido, que deixa para a narrativa e os actores todo o espaço que eles precisam para chamarem a nossa atenção. Não há efeitos ou artifícios chamativos para nos distraírem ou manterem entretidos quando o enredo tropeça, porque ele não tropeça. Temos uma cinematografia confiante em que o exigente De Niro mostrou ter noção de enquadramento e saber exigir o melhor da câmara É um filme nítido, com bom equilíbrio de cores e luz, boa profundidade e contraste. Os cenários e figurinos são muito bons, mas faltam mais elementos que nos ajudem, como eu disse, a perceber melhor a passagem do tempo. Não há grande uso de efeitos visuais, especiais ou sonoros, mas o que foi usado tem qualidade.