Pedro Quintão
Escrita em 5 de Janeiro de 2025
A nova versão de Nosferatu (2024), realizado por Robert Eggers, é uma obra que deslumbra no aspeto técnico, mas que, para mim, falha em criar uma ligação emocional com o espectador. O trabalho visual e sonoro é de uma qualidade incrível, revelando o perfeccionismo de Eggers, mas há algo que parece faltar tanto ao vilão da obra como ao filme: uma alma.
Cada vez mais acredito que Eggers faz filmes para serem apreciados, mas não para serem sentidos. É como se as suas obras fossem galerias de arte, esteticamente impecáveis, mas desprovidas de qualquer emoção. Pois, em nenhum momento, por mais que tentasse, consegui criar uma ligação e sentir-me envolvido com esta produção.
Tecnicamente, o filme é soberbo. A atmosfera sombria e gótica é construída com um nível de detalhe extraordinário. Desde a iluminação que remete para a estética do cinema expressionista alemão até ao som que amplifica o desconforto, é impossível não reconhecer o talento do realizador. Contudo, a perfeição técnica por vezes afoga a narrativa, que parece secundária face à obsessão em criar uma experiência visualmente imaculada.
O maior problema de Nosferatu é o seu ritmo e a duração. Com 2h15m, o filme torna-se um exercício de paciência. Há cenas que não acrescentam nada ao enredo e diálogos que soam repetitivos. Muitos desses momentos parecem estar ali apenas para exibir a qualidade técnica da produção, mas acabam por prejudicar o ritmo da história. Sinceramente, o filme ganharia muito se tivesse menos 30 ou 45 minutos.
O arco da protagonista é outro aspeto que me cansou. Grande parte do tempo é passada com ela em transe, a contorcer-se e a gemer devido a alucinações. No início, essas cenas criam tensão, mas a repetição constante rapidamente se torna aborrecida e previsível. A narrativa acaba por perder força e intensidade, tornando-se monótona. Para não falar da justificação pobre (se é que podemos chamar isso) para a ligação dela com o vilão.
Não é um filme lento, tem jump scares e cenas de suspense, o problema de Nosferatu é enrolar a narrativa em excesso. Recentemente, vi Heretic, que possui um ritmo muito mais pausado, mas conseguiu manter-me mais interessado do que este filme.
Quanto ao próprio Nosferatu, tenho sentimentos mistos. Bill Skarsgård oferece uma interpretação memorável, com uma voz assustadora que dá à personagem uma presença imponente. No entanto, o visual do vampiro deixou-me dividido. Há momentos em que gostei, mas o bigode estranho dava-lhe um aspeto que, por vezes, o faz lembrar como uma fusão entre o vilão do filme de 1922 e o Borat.
Nosferatu não é, de forma alguma, um filme fraco. É uma obra tecnicamente impressionante, mas que carece de uma narrativa mais ágil e de uma dimensão emocional. Robert Eggers é, sem dúvida, um mestre a criar atmosfera e obras que se prezam pelos valores técnicos. Contudo, pelo menos na minha opinião, falta-lhe a capacidade de fazer o público sentir, de criar uma ligação emocional entre o espectador e a história. Talvez isso não seja um problema para todos, mas para mim é impossível ignorar essa lacuna.