Filipe Manuel Neto
Escrita em 28 de Setembro de 2022
**Entretém muito bem, mas não passa disso, e pode acabar esquecido daqui a uns anos.**
Se não fosse por este filme, eu não teria conhecido a personagem do Motoqueiro Fantasma, a qual é talvez uma das mais sombrias e pouco conhecidas do universo Marvel. Sou uma nulidade em termos de banda desenhada, confesso, mas conheço algumas personagens (as mais famosas evidentemente) e já vi alguns filmes. Portanto, vou ignorar o material de origem e focar-me no que este filme nos traz, assumindo que não sou a melhor pessoa para dizer se estamos diante de uma boa adaptação e de um filme que respeita o material em papel.
O roteiro tem algumas notas de interesse, especialmente para quem aprecia um universo mais adulto e mais denso: Johnny Blaze era um jovem acrobata que fazia impressionantes números de circo com motos, juntamente com o seu pai. Todavia, ao tomar conhecimento de que o pai está prestes a morrer de cancro, Blaze decide aceitar um pacto com o Diabo na esperança de o salvar, o que não consegue fazer. Preso para sempre ao pacto feito, torna-se num monstro que procura e castiga homens violentos e cruéis. Até ao dia em que tem de recuperar um contracto de centenas de almas que condenaria uma vila inteira, e que daria a quem o tivesse um enorme poder maléfico.
Se considerarmos o filme como uma peça de puro entretenimento, eu penso que sairemos daqui razoavelmente satisfeitos. O filme não é um exemplo de arte cinematográfica, e penso que não deixará grandes saudades a nenhum dos envolvidos, excepto talvez Nicolas Cage, para quem o filme foi uma boa aposta financeira, apesar de não ter sido particularmente bem-sucedido junto da crítica, e ter sido bastante criticado pelo público. Dirigido e escrito por Mark Steven Johnson, é um filme com menos acção do que seria expectável para muitos, ainda que eu não tenha tido qualquer problema com isso. Senti mais dificuldades em lidar com o ritmo desigual do filme, que perde tempo em determinadas cenas de uma forma difícil de justificar.
Apesar de ser indubitavelmente popular e carismático, Nicolas Cage não está ao seu melhor aqui e dá-nos uma interpretação, no mínimo, insatisfatória. Porém, Cage tem revelado, com o tempo, que também não é um actor constante e equilibrado. Ele é muito bom, é capaz de fazer grandes trabalhos, mas também pode ser decepcionante. Peter Fonda é bastante bom aqui, mas a sua participação é relativamente irrisória, aparecendo apenas nalgumas cenas. Tenho dúvidas sobre o real talento de Eva Mendes para a representação, ainda não a vi fazer uma personagem que não dependa do seu sex appeal e o que vi aqui não me convenceu. Todavia, o que ela fez basta para a personagem, que é uma namorada gostosa e quente do protagonista. Sam Elliot sai-se bem e dá à sua personagem um aroma de “durão rude” dos velhos tempos, o que me agradou.
O filme aposta, consistentemente e inteligentemente, em fortes e impactantes efeitos especiais e CGI de qualidade. Obviamente, nem tudo funciona bem e aqueles efeitos de fogo, no rosto e na moto da personagem, são tão obviamente falsos que não convencem ninguém, ainda que o resultado seja esteticamente bonito e combine com a personagem e o ambiente. Afinal, caveiras em chamas são, ainda, um clássico das tatuagens e das estampas para blusões de motoqueiros. O filme aproveita bem os locais de filmagem escolhidos, tem bons cenários, bons figurinos, um ambiente sombrio que não é excessivamente denso e não assusta. Quem considerar este filme como terror deverá evitar filmes como “O Exorcista” e outros, para não acabar por morrer de ataque cardíaco, porque este filme, como está, não assusta um adolescente de quinze anos.