Filipe Manuel Neto
Escrita em 25 de Julho de 2020
**Um dos melhores filmes que vi nos tempos recentes. Recomendo!**
Fiquei verdadeiramente impressionado com este filme. É um dos mais impressionantes e mais intensos que já vi em algum tempo e creio que não podia ter tido outro destino que não fosse ganhar o Óscar de Melhor Filme, naquele já longínquo ano de 2005. É também, para mim e até ao momento, o melhor filme de Clint Eastwood, onde ele não só representa um dos papéis mais importantes e psicologicamente complexos, como ainda dirige exemplarmente. Notável!
O filme, e não me vou alongar demasiado aqui, é basicamente acerca de uma jovem rapariga de origens muito modestas que encontra no pugilismo um rumo de vida. O problema é que ela é uma mulher, e todas as academias de boxe a rejeitam por causa disso. No entanto, ela vai conseguir captar a atenção de dois treinadores, antigos pugilistas reformados, que aceitam a tarefa de a treinar e ensinar, sendo que cada um deles tem um passado sofrido ligado ao boxe e vidas pessoais muito complexas, que o filme explora igualmente. Para saber mais, o melhor é realmente ver o filme, porque vale a pena cada minuto.
Clint Eastwood é o homem do filme. Ele já havia dado provas de ser um grande actor e grande director, isso não era novidade quando ele lançou este filme, mas é difícil conceber algo que se revele ainda melhor. A mão hábil de Eastwood, o seu estilo atento e detalhista, estão por toda a parte e garantiram-lhe o Óscar de Melhor Director nesse ano, com todo o mérito e justiça. O roteiro, baseado em contos de F.X. Toole, foi escrito por Paul Haggis e é excelente em todos os aspectos. E aqui eu penso que Eastwood arriscou, dado que Haggis tinha feito, até então, uma carreira como argumentista mais associada à televisão do que ao cinema. Mas o risco foi bem recompensado, e a prova é a colaboração de Haggis em vários filmes de Eastwood a partir daí.
O elenco não é muito grande e isso é bom, pois deu aos actores tempo e espaço para brilhar. A estrela é Clint Eastwood, que faz um papel de durão com sentimentos e um passado por resolver. Ao seu lado está Hillary Swank, uma jovem actriz cheia de personalidade e que já tinha brilhado em *The Next Karate Kid*, também numa personagem de acção no feminino. Ela foi impressionante e atingiu aqui um dos píncaros da sua carreira, granjeando o Óscar de Melhor Actriz pela segunda vez na sua carreira, o que é sempre impressionante e notável para um actor. Outro actor que merece destaque neste filme, e que conseguiu arrecadar o Óscar de Melhor Actor Secundário, é o impecável e já veterano Morgan Freeman. Contudo, e apesar de ser um grande actor, este foi o único galardão que a Academia de Hollywood lhe concedeu até ao presente momento.
Tecnicamente é um filme impecável. A cinematografia brinda-nos com uma filmagem óptima e um uso magistral da cor, da sombra e do contraste para expressar e amplificar sentimentos e estados de espírito das personagens. Os cenários e figurinos são excelentes. Os efeitos de som e a banda sonora, muito discreta, cumprem a sua função com mérito mas sem tirarem a nossa atenção da história que está a ser contada. O trabalho de pós-produção também foi feito com carinho e atenção.
Quem disser que este filme é apenas mais um filme de boxe está totalmente equivocado e fez uma leitura redutora deste filme. É um filme baseado no universo do boxe e do pugilismo, mas vai muito além disso, brindando-nos com muito mais: histórias de pobreza, de ambição, até de ganância. Uma história de sonhos que vão sendo paulatinamente esmagados, soco a soco, pela dureza da vida e da realidade. E por fim uma história sobre dor, sobre morte e perda, onde se lançam questões morais altamente pertinentes e ainda hoje discutíveis.