KinoPop
Max
Max Amazon Channel
Telecine Amazon Channel
Menina de Ouro (2004)
Além de seu silêncio, existe um passado. Além de seus sonhos, há um sentimento. Além da esperança, existe uma memória. Além de sua jornada, existe um amor.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 25 de Julho de 2020**Um dos melhores filmes que vi nos tempos recentes. Recomendo!** Fiquei verdadeiramente impressionado com este filme. É um dos mais impressionantes e mais intensos que já vi em algum tempo e creio que não podia ter tido outro destino que não fosse ganhar o Óscar de Melhor Filme, naquele já longínquo ano de 2005. É também, para mim e até ao momento, o melhor filme de Clint Eastwood, onde ele não só representa um dos papéis mais importantes e psicologicamente complexos, como ainda dirige exemplarmente. Notável! O filme, e não me vou alongar demasiado aqui, é basicamente acerca de uma jovem rapariga de origens muito modestas que encontra no pugilismo um rumo de vida. O problema é que ela é uma mulher, e todas as academias de boxe a rejeitam por causa disso. No entanto, ela vai conseguir captar a atenção de dois treinadores, antigos pugilistas reformados, que aceitam a tarefa de a treinar e ensinar, sendo que cada um deles tem um passado sofrido ligado ao boxe e vidas pessoais muito complexas, que o filme explora igualmente. Para saber mais, o melhor é realmente ver o filme, porque vale a pena cada minuto. Clint Eastwood é o homem do filme. Ele já havia dado provas de ser um grande actor e grande director, isso não era novidade quando ele lançou este filme, mas é difícil conceber algo que se revele ainda melhor. A mão hábil de Eastwood, o seu estilo atento e detalhista, estão por toda a parte e garantiram-lhe o Óscar de Melhor Director nesse ano, com todo o mérito e justiça. O roteiro, baseado em contos de F.X. Toole, foi escrito por Paul Haggis e é excelente em todos os aspectos. E aqui eu penso que Eastwood arriscou, dado que Haggis tinha feito, até então, uma carreira como argumentista mais associada à televisão do que ao cinema. Mas o risco foi bem recompensado, e a prova é a colaboração de Haggis em vários filmes de Eastwood a partir daí. O elenco não é muito grande e isso é bom, pois deu aos actores tempo e espaço para brilhar. A estrela é Clint Eastwood, que faz um papel de durão com sentimentos e um passado por resolver. Ao seu lado está Hillary Swank, uma jovem actriz cheia de personalidade e que já tinha brilhado em *The Next Karate Kid*, também numa personagem de acção no feminino. Ela foi impressionante e atingiu aqui um dos píncaros da sua carreira, granjeando o Óscar de Melhor Actriz pela segunda vez na sua carreira, o que é sempre impressionante e notável para um actor. Outro actor que merece destaque neste filme, e que conseguiu arrecadar o Óscar de Melhor Actor Secundário, é o impecável e já veterano Morgan Freeman. Contudo, e apesar de ser um grande actor, este foi o único galardão que a Academia de Hollywood lhe concedeu até ao presente momento. Tecnicamente é um filme impecável. A cinematografia brinda-nos com uma filmagem óptima e um uso magistral da cor, da sombra e do contraste para expressar e amplificar sentimentos e estados de espírito das personagens. Os cenários e figurinos são excelentes. Os efeitos de som e a banda sonora, muito discreta, cumprem a sua função com mérito mas sem tirarem a nossa atenção da história que está a ser contada. O trabalho de pós-produção também foi feito com carinho e atenção. Quem disser que este filme é apenas mais um filme de boxe está totalmente equivocado e fez uma leitura redutora deste filme. É um filme baseado no universo do boxe e do pugilismo, mas vai muito além disso, brindando-nos com muito mais: histórias de pobreza, de ambição, até de ganância. Uma história de sonhos que vão sendo paulatinamente esmagados, soco a soco, pela dureza da vida e da realidade. E por fim uma história sobre dor, sobre morte e perda, onde se lançam questões morais altamente pertinentes e ainda hoje discutíveis.