Ligações Perigosas (1988)

Filipe Manuel Neto

Escrita em 2 de Fevereiro de 2020

**Um filme visualmente belo, onde a maldade e a perversidade mostram o seu lado mais atraente e sedutor.** O período barroco foi uma época que ficou para a história pelas suas guerras (Guerra dos Sete Anos, Guerra da Sucessão Espanhola), pelo surgimento da arte e da ópera (Handel, Vivaldi, Carlos Seixas, Bach etc. na música, Velásquez, Caravaggio, van Dyck, Josefa de Óbidos, Rembrandt etc. na arte), pelas roupas e perucas elaboradas usadas pelos ricos e pela aristocracia, pelo absolutismo régio e pelos seus gigantescos palácios (como Versalhes, Sanssouci, Charlottenburg, Peterhoff, Tsarskoye Selo, Mafra, El Escorial etc.) Mas o Barroco foi também um período de um certo relaxamento moral, particularmente para as classes altas. Figuras como Giacomo Casanova ou o infame Marquês de Sade são precisamente desta época. E é em redor de duas figuras particularmente infames que o filme se passa. A marquesa Isabelle de Merteuil é uma viúva manipuladora, fria e cruel, que mantém um caso de longa data com o promíscuo e rude Visconde Valmont. É ela quem pede a Valmont que seduza a jovem e pura Cécile de Volanges, que estava destinada a casar com um homem que Merteuil odiava. O visconde hesita, preferindo tentar seduzir a Madame de Tourvel, casada e altamente moralista, pelo desafio que isso representa. Mas juntos vão pôr em perigo a honra e os sentimentos, deles e dos outros. Neste filme, a história combina bastante bem sedução, crueldade e paixão. As personagens principais, interpretadas brilhantemente por Glenn Close e John Malkovich (um dos filmes mais notáveis da carreira de ambos os actores), são verdadeiramente desprezíveis mas têm estilo e classe, e é isso que as torna sedutoras. O mal pode ser algo atraente, como todos sabemos. Ao lado deles, temos uma grande Michelle Pfeiffer, vivendo os anos dourados da sua carreira, e uma jovem Uma Thurman, a despontar, a dar mostras de um talento em desenvolvimento à medida que interpretou a sua *Lolita*. Keanu Reeves surge igualmente, num papel algo discreto mas que o actor cumpre com eficácia sem ter espaço para mostrar mais. Dirigido por Stephen Frears, o filme tem excelentes figurinos e cenários. O uso de excelentes locais de filmagem como os castelos de Neuville e Vincennes e o Teatro Montansier, em França, ajudaram muito à beleza e realismo do produto final. O filme apresenta ainda uma fotografia com bom contraste e uma filmagem regular.