Ladrão de Sonhos (1995)
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 1 de Junho de 2023**Um espectáculo visual com uma história irritante que não justifica o tempo gasto a ver o filme.** Adorei – como quase toda a gente – “Amelie” e não gostei particularmente de “Delicatessen”. No entanto, não desisti de Jean Pierre Jeunet e resolvi ver este filme. Confesso que até fiquei impressionado pela qualidade visual, mas isso é praticamente uma marca registada do director, que parece ter uma predilecção particular pela cor verde (era bastante evidente em Amelie, e neste filme voltou a ser a cor dominante da paleta cromática utilizada). No entanto, volta a ser, como “Delicatessen” havia sido, um filme bastante estranho, depressivo e bizarro. Mais bizarro que alguns filmes de Tim Burton, o que não é fácil. Perante o que acima foi descrito, creio que não será surpreendente se eu disser que é um filme que assenta, basicamente, em recursos visuais e especiais. Há imenso esforço visual aqui, e não há dúvida de que Jeunet está por trás disso. A cinematografia é muito boa, com um excelente trabalho de filmagem, e os cenários merecem a nossa atenção. Os figurinos foram desenhados por Jean Paul Gautier, portanto, são praticamente alta-costura (com todas as bizarrias que isso geralmente implica) e a banda sonora faz, também, um bom trabalho. O elenco é bastante completo, e as personagens são complicadas e difíceis de entender. Posso até dizer que algumas personagens parecem caricaturas ou coisas saídas de Conney Island, de um qualquer espectáculo de anormalidades. Gostei, contudo, do esforço desenvolvido aqui por Dominique Pinon, um dos grandes actores franceses da actualidade. Ele não interpreta apenas uma personagem, mas uma legião de clones. Também gostei de Ron Perlman, ele é bom para este tipo de filmes, mas sinceramente, sinto que o actor não estava confortável nem com o seu papel, nem com o material que lhe era dado. Não sei até que ponto a barreira linguística foi de facto a causa disso, mas foi a sensação com que eu fiquei. O filme é, essencialmente, uma distopia futurista depressiva e decadente, onde um cientista há muito ensandecido rapta crianças para lhes roubar os sonhos. A base da trama faz lembrar um pouco “The Island of Dr. Moreau”. Depois, temos um duo de gémeas siamesas que constituem as vilãs principais, e se comportam de modo absolutamente bizarro, e um homem forte que se decide a ir em busca do seu irmão mais novo, raptado como muitos outros, na companhia de uma menina que o vai ajudar. Todavia, tudo o resto é extraordinariamente complicado. Parece que o roteiro não teve a merecida atenção: há partes muito subscritas, pontos que não fazem sentido nenhum, reviravoltas estranhas que parecem acontecer apenas para tornar tudo ainda mais estranho e fora do normal. Como história contada, é um filme irritante e que não presta.