Pedro Quintão
Escrita em 16 de Agosto de 2025
Together, não é de todo o típico “filme de terror pipoca”. É um daqueles filmes que desafiam as nossas expectativas: não é óbvio, nem segue os padrões mais convencionais e, acima de tudo, perdura muito tempo na nossa mente após acabarem os créditos, levando-nos -nos a revisitar certas cenas e a refletir sobre o que realmente vimos. O final é um bom exemplo disso. Não é aberto ao ponto de ser frustrante, mas também não entrega todas as respostas de bandeja. Fica algures num espaço ambíguo que até me deixou satisfeito, porque apesar de entregar uma resposta, ainda me fez pensar e interpretar.
A narrativa é um retrato interessante da rotina, do desgaste das relações, mas também da força do amor. Existe uma humanização rica nestas personagens, pois todas as suas falhas, contradições e escolhas refletem momentos da nossa vida, de uma forma ou de outra. Uns vão identificar-se mais com a desilusão, outros com a resiliência, mas a verdade é que há sempre um ponto de contacto entre o espectador e o que está no ecrã.
No que toca ao terror, não segue o caminho mais óbvio. Eu, confesso, estava à espera de algo mais visceral, talvez até mais nojento, visto que se trata de um body horror, mas Together não foi por aí. O filme prefere trabalhar mais no desconforto psicológico do que no choque gráfico. Não há muito gore, mas o pouco que existe é convincente e bem trabalhado. Os efeitos, tanto práticos como CGI, estão muito bem conseguidos, e nunca soam artificiais ao ponto de quebrar a imersão.
As interpretações também são competentes. Dave Franco e Alison Brie dão uma intensidade notável às suas personagens, sustentando a narrativa em qualquer momento. A química entre os dois é credível, e a forma como os vemos oscilar entre afeto e tensão ajuda muito a reforçar a mensagem do filme.
Claro que não é um trabalho perfeito. A primeira parte é mais arrastada e pode ser difícil para alguns espectadores entrarem "na vibe" do filme. Também não posso deixar de referir que o plot twist é bastante previsível, pois eu próprio adivinhei cedo demais, o que retirou algum impacto. No entanto, não foi suficiente para me estragar a experiência.
No fim, Together é um filme que, mesmo com algumas falhas, cumpre o que promete: é diferente, tem boas interpretações, um conceito bizarro e uma trama que nos envolve até ao fim. Não é para quem procura algo fácil ou descartável, mas sim para quem gosta de cinema de terror que arrisca e que nos deixa a refletir muito depois de sair da sala.