Gata em Teto de Zinco Quente (1958)
Apenas um travesseiro na cama... e apenas um desejo em seu coração!
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 30 de Janeiro de 2021**Um clássico notável.** Este filme é baseado num interessante texto de Tennesse Williams, uma peça de teatro que já se tornou um clássico do teatro norte-americano. Portanto, acredito que as expectativas para o filme fossem altas, quando ele estreou, para o público anglófono. Para mim, que não conheço a obra de Williams, é diferente: não posso comparar o filme com um livro que nunca li ou uma peça de teatro que nunca vi. O roteiro centra-se numa festa de aniversário, na plantação sulista de Big Daddy. A festa reúne a família toda porque se sabe que ele vai morrer em breve, mas isso é algo que todos decidiram esconder-lhe. Ele tem dois filhos: Gooper, o filho mais novo, sempre fez tudo o que o pai queria, casou com uma mulher interesseira e tem uma colecção de filhos irritantes; por outro lado, Brick é o oposto, nunca tendo tido um relacionamento fácil com o pai. Alcoólico em virtude de uma mágoa do passado e de uma carreira desportiva fracassada, casou com a bela Maggie, a “Gata”, de quem ninguém na casa parece gostar. Quando Big Daddy volta do hospital, certo de que está bem de saúde, aproveita para dizer muito do que sempre pensou a cada um dos presentes. Isso vai ser o catalisador para que muitos segredos de família sejam revelados ou desenterrados. Achei o filme bastante interessante pela forma como joga com um momento familiar trivial – uma festa de aniversário – para criar um verdadeiro drama familiar. Não preciso de ler o livro de Williams para acreditar que o filme lhe foi fiel: mesmo sem o ter feito, dou crédito ao trabalho do roteirista, mesmo sabendo que certos aspectos, como as alusões à homossexualidade, foram bastante minoradas. Porém, não compreendi por que razão Maggie é chamada (ou chama a si mesma) de “Gata”, muito embora compreenda que ela não se sente desejada pelo marido. O filme conta com um elenco luxuoso e notável, que se sai muito bem tanto pelo empenho quanto pela qualidade dos seus diálogos. Burl Ives merece destaque pelo empenho com que encarna a sua personagem, mas Paul Newman não lhe fica atrás e é excelente na forma como dá a Brick mais dor, mais intensidade psicológica do que se podia esperar. Elizabeth Taylor, ao seu lado, obtém com este filme uma das interpretações mais icónicas da sua carreira, apesar de a personagem ser bastante secundária na história contada. Ela consegue dar fazer de Maggie uma personagem agradável, que é profundamente interesseira, mas consegue ser humana e ter um grande coração também. Ela estabelece uma colaboração e uma química com Newman que é admirável. Jack Carson e Madeleine Sherwood são bastante competentes nos seus papéis. Tecnicamente, é um filme muito contido, deixando a interpretação dos actores falar por si. A cinematografia é extraordinariamente bonita para um filme com tantos anos, as cores são vívidas e a luz foi muito bem utilizada, tal como a chuva e a noite, com uma tempestade fora de casa a acompanhar a tempestade que se desenrolava no interior. Os figurinos e cenários são muito bons, a casa parece-se muito com a plantação de Twelve Oakes, de *E Tudo o Vento Levou*. A banda sonora cumpre o seu papel.