**Decididamente, um filme que superou as minhas expectativas.**
É incrível ver este filme de 2013, à luz do que acontece em 2020. Ambientado num futuro próximo, parece-se imenso com muitas coisas que se passam agora, nos nossos dias. Estou certo, contudo, que os consultores técnicos por detrás da produção tiveram em linha de conta os avanços prováveis da tecnologia na elaboração do roteiro.
O filme é, basicamente, uma história de amor entre um ser humano e um programa de computador. Não é um programa qualquer, mas sim um software pensado para actuar como se fosse outra pessoa a fim de apoiar o utilizador em várias tarefas, como se fosse uma espécie de secretário electrónico que conhece as necessidades, gostos e maneira de ser do utilizador humano. Um programa que, enquanto organiza o nosso e-mail e nos lembra das tarefas diárias, também conversa connosco, nos mantém a par das últimas notícias e até nos ajuda na escolha de um bom prato para o jantar ou de um presente para a namorada.
Vencedor do Óscar de Melhor Argumento Original, o filme está cheio de questões profundas ao nível da moral, da ética, da filosofia, algumas das quais já altamente pertinentes e actuais. A forma como o filme aborda as actuais dificuldades de relacionamento inter-pessoal directo é brilhante. De facto, com a tecnologia e o aumento das formas de socialização virtual, parece que os seres humanos correm o risco de se esquecer de como é relacionarem-se directamente, sem o intermédio de um aparelho tecnológico ou da Internet. O filme explora magistralmente essas questões e dificuldades, com as personagens humanas sem saber como agir ou lidar com os seus sentimentos e os seus receios, o aumento da solidão física e dos constrangimentos psicológicos e emocionais. Os namoros à distância são uma coisa já antiga, que até era feita por troca de cartas, e no passado existia até a figura do casamento por procuração, há muito caída em desuso. A tecnologia, todavia, deu novo fôlego aos romances à distância, tornou possível conhecer, conviver e amar alguém do outro lado do mundo, com todos os perigos e receios que isso implica… mas com a viabilidade e proximidade que uma boa ligação de Internet e uma webcam podem permitir, e que as cartas e o correio jamais permitiram. Claro, ainda não chegamos ao ponto de namorar com máquinas, nem as máquinas possuem a desenvoltura intelectual e desembaraço linguístico que lhes permita assemelharem-se ao contacto com um ser humano real. Mas se as coisas continuarem a evoluir, quem sabe?
Joaquin Phoenix é o protagonista desta história de amor, dando vida a uma personagem muito tímida, psicologicamente complexa e profunda, que deu gosto ver na tela. É pouco comum ver num filme uma personagem com tamanho desenvolvimento psicológico e emocional, e sempre que isso acontece devemos aplaudir de pé, tanto o argumentista quanto o actor que lhe deu corpo. Neste caso, os aplausos são plenamente justificados, na medida em que Phoenix nos brindou, provavelmente, com um dos trabalhos mais notáveis da sua carreira como actor. Amy Addams fez também um excelente trabalho, com uma personagem que é, também, bastante complexa mas que demora o seu tempo a desenvolver-se. Olivia Wilde e Rooney Mara também fazem muito bem o seu papel, em personagens secundárias com relevo para a história contada. Por fim, mas muito importante, a excelente contribuição dada pela voz profunda de Scarlett Johansson.
Tecnicamente, o filme está cheio de pontos positivos. Não é um filme carregado de efeitos, e e isso dá à história contada muito mais relevância posto que os efeitos especiais e visuais, não raras vezes, distraem o público de tudo o resto. A excelente cinematografia usa muito bem as paisagens incríveis das grandes metrópoles chinesas. A banda sonora é competente, porém discreta e combina bem com os cenários e figurinos elegantes, que combinam bem elementos do nosso tempo com outros de índole mais futurista.
**"Ela (2013): Uma obra-prima emocionante que reflete nossa relação com a tecnologia"**
Ela é uma obra-prima que transcende o gênero de ficção científica. É um filme que nos faz refletir sobre nossa própria relação com a tecnologia e como ela pode impactar nossas vidas e emoções.
Com uma atuação brilhante de Joaquin Phoenix, uma narrativa profunda que nos leva a pensar sobre o verdadeiro significado da conexão humana, a solidão, e a busca pelo amor genuíno além de ter uma estética visual deslumbrante, o filme conquista o público, oferecendo uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo intelectual e emocionalmente envolvente.
É uma obra-prima que merece ser apreciada por sua profundidade e beleza.