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Doutor Jivago (1965)
Turbulentos eram os tempos e ardente era a história de amor de Zhivago, sua esposa e a apaixonada e terna Lara.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 23 de Fevereiro de 2018**Profundamente lindo e comovente, é um dos meus filmes preferidos.** Yuri Jivago é um jovem russo de uma família abastada e acabou de se formar como médico. Tem tudo para ter uma vida feliz e ao alcance de poucos na Rússia czarista. No entanto, rebenta a Primeira Guerra Mundial e, passados três anos, dá-se a Revolução Bolchevique. Tais eventos irão mudar radicalmente a face do seu país e a sua vida, enquanto vive um caso extra-conjugal com a esposa de um revolucionário sangrento e cruel. Dirigido por David Lean, o filme tem roteiro de Robert Bolt, inspirado no romance icónico de Boris Pasternak. O elenco é liderado por Omar Sharif, Julie Christie, Alec Guinness e Tom Courtenay. Este filme, um épico da guerra, mostra-nos a dureza dos eventos que afectaram a sociedade russa nas primeiras décadas do século XX: a fome, a instabilidade social, a servidão, a participação na Primeira Guerra Mundial e, finalmente, a revolução republicana, o fim do Czarismo e a ascensão do bolchevismo, após uma dura guerra civil. É considerado por muitos um marco do cinema e dos filmes mais icónicos da longa carreira do egípcio Omar Sharif. Eu, pessoalmente, considero-o imperdível para qualquer amante do cinema épico. O roteiro faz inteira justiça ao livro de Pasternak e a interpretação dos actores é excelente, mostrando-nos de uma forma clara, quase crua, as dicotomias e contrastes de cada personagem retractada. Nós vemos a bondade inata e genuína de Jivago na forma como trata todos, e vemos o seu amor à poesia. Vemos também como é que a ingenuidade e inocência de Lara são roubadas por Komarovsky, que é a epítome do aproveitador hipócrita, que só pensa nele e mede os outros pela sua própria medida. Vemos depois como cada um é afectado pelos acontecimentos dramáticos. Jivago, em particular, tem sentimentos contraditórios em relação à Revolução que podem, creio, espelhar o que o próprio Pasternak pensava: como poeta, ele via a beleza quimérica da revolução, mas não podia concordar com o que via e com o rumo que as coisas iam tomando. O lado mais sombrio da revolução é personificado na forma mais perfeita por Strelnikov, um homem cujo "coração deve estar morto", nas palavras de uma das personagens. Sendo um filme muito focado no roteiro, nos actores e na forma como conta a história, não é de esperar um espectáculo de efeitos especiais. Contudo, a fotografia é excelente, em especial nas cenas de paisagem, que são profundamente belas tanto de Inverno quanto de Verão. As filmagens decorreram em vários lugares, e a escolha dos locais de filmagem foi criteriosa. Saúdo especialmente a escolha da Barragem de Aldeiadávila, construída no rio Douro, exactamente entre Portugal e Espanha. Os cenários e os figurinos também são deslumbrantes e detalhados, o que ajuda o público a "entrar" no filme, a deixar-se levar pela história, algo que é fundamental neste filme, de quase três horas e meia de duração. A banda sonora, composta por Maurice Jarre, é das mais lindas já feitas para o cinema, em especial o seu tema principal, chamado de "Tema de Lara". O filme ganhou cinco Óscares: Melhor Argumento Adaptado, Melhor Cinematografia a Cores, Melhor Cenário em Filmes a Cores, Melhor Guarda-Roupa em Filmes a Cores, Melhor Banda Sonora Original. Foi ainda nomeado para outras cinco categorias: Melhor Filme, Melhor Actor Secundário, Melhor Director, Melhor Som e Melhor Edição. Ainda ganhou o Globo de Ouro para Melhor Filme Dramático, Melhor Actor Dramático, Melhor Argumento e Melhor Banda Sonora.