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Cidade dos Sonhos (2001)
78%
Avaliação dos usuários
Uma história de amor na cidade dos sonhos.
Sinopse
David Lynch
Diretor, EscritorTony Krantz
ProdutorMary Sweeney
ProdutorNeal Edelstein
ProdutorMichael Polaire
ProdutorPierre Edelman
Produtor ExecutivoAlain Sarde
ProdutorFilipe Manuel Neto
Escrita em 8 de Julho de 2022**Hoje, finalmente, entendi este filme… e fiquei maravilhado com ele.** Penso que aquilo que aconteceu comigo foi exactamente o mesmo que aconteceu com a maior parte das pessoas: quando vi este filme a primeira vez, há anos, não entendi nada. Isso manteve-se por muito tempo: sempre que eu via este filme acabava por não o entender. Isso acabou hoje, quando o vi com um amigo meu, que também gosta de cinema e que me disse _“tens de ter duas coisas em conta: a primeira é a narrativa não-linear, por vezes com mudanças muito subtis; a segunda é que a maior parte do filme não é a vida real, é um sonho da protagonista”_. Se há filmes quase perfeitos, este está perto disso, embora não seja fácil entendê-lo e seja necessário vê-lo cinco ou seis vezes para o compreendermos bem. Eu já tinha tido a experiência de que os filmes de David Lynch não são fáceis… tive o primeiro contacto com o director há uns anos, com o filme _Veludo Azul_, e percebi que ele faz filmes herméticos, com ideias implícitas, sugestões sub-reptícias e oníricas, que muitas vezes (quase sempre) fogem ao olhar do público. Gosto disso: é um tipo de cinema desafiador, que faz pensar e mexe connosco. Não significa que eu perceba tudo ou me aperceba de tudo! E hoje, à conversa com o meu amigo, consegui por fim entender melhor este filme. Feito inicialmente em 1999, como um episódio-piloto para uma série de TV, foi transformado em longa-metragem após os produtores televisivos rejeitarem o produto. A própria forma como Lynch deu a volta ao seu fracasso e o transformou num dos seus maiores sucessos é marcante, reveladora do seu estilo e persistência. O filme é realmente bom e creio que, ao comentar o que aprendi hoje, já estou a ajudar quem o quiser ver e entender. Se ficarmos atentos, ele indica-nos os momentos em que a personagem principal adormece (logo no início) e acorda novamente. E eu creio que posso ainda dizer, sem estar a revelar demasiado, que a festa em casa do director de cinema, já bem perto do final do filme, é a cena-chave para entender mais de metade da trama, que se centra, basicamente, numa jovem que vai para Los Angeles com o sonho de se tornar rica e famosa e fracassa nesse intento, aliando a essa frustração um enorme desgosto de amor e a perda dos seus próprios valores morais e inocência. O elenco está perfeitamente à altura dos desafios que vai recebendo do director, e é incrível ver Naomi Watts aqui. Este filme simboliza verdadeiramente o arrancar da carreira dela enquanto actriz, na medida em que apenas fez alguns trabalhos menores, na Europa e nos EUA, até fazer este filme. Ela é verdadeiramente excelente, conseguindo captar toda a nossa simpatia e fazer-nos gostar da personagem dela. Até certo ponto, acho que a actriz se reviu muito na personagem que fez: também ela tinha o sonho de singrar na carreira cinematográfica e também ela sofreu para o conseguir finalmente. Também Laura Harring esteve muito bem e merece um louvor pelo seu trabalho. Justin Theroux, que interpretou o director Adam Kesher, dá um contributo bem-vindo e sólido ao trabalho das actrizes, ainda que este filme seja claramente dominado por elas. Tecnicamente, o filme é uma aula de cinema a todos os níveis. Além da brilhante direcção, Lynch aposta bastante na cinematografia. Aqui, vale a pena ver como ele usa os cenários que escolhe, as paisagens da cidade, e algumas técnicas como o zoom, o close-up, o desfoque, para passar ao público mensagens acerca do estado de espírito das personagens. Também aproveita bem a cor, vibrante e bonita, sendo que as cores vermelho e azul têm um significado particularmente importante para a compreensão do filme, e do que está a ser visto. O filme tem algumas cenas de nudez e de sexo bastante intensas, e um ritmo bastante lento que é intencional. Os cenários também são muito importantes: por vezes, a disposição dos objectos e a forma como os actores se relacionam com eles ajuda-nos a entender o que vemos, mas isso é verdadeiramente subtil e é preciso estar atento. Finalmente, uma palavra muito especial para a banda sonora, hipnótica e quase inesquecível, assinada por Angelo Badalamenti, e que vale a pena ouvir com atenção, desde o ‘leitmotiv’ principal às canções, alegres e despreocupadas, ao estilo dos anos 50.
5000 Caracteres Restantes.