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Beleza Americana (1999)
Olhe mais de perto.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 13 de Setembro de 2019**Controverso, ousado, com um toque de brilhantismo desagradável... mas confesso que estava à espera de algo mais.** Confesso que esperava mais deste filme. Considerado como um dos cem melhores filmes de sempre por mais de uma lista redigida por mais de uma autoridade na matéria, ganhou cinco Óscares da Academia de Hollywood (Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Realizador, Melhor Argumento Original, Melhor Fotografia) e três Globos de Ouro (Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento de Cinema). É um palmarés invejável para um filme que, quando vamos a ver, parece não o justificar... De facto, olhando apenas para os nomeados para Óscar de Melhor Filme naquele longínquo ano 2000, eu gostei muito mais de "The Insider" ou "The Green Mile" do que deste filme, que basicamente retrata as fantasias não-realizadas de um homem de meia idade, da classe média suburbana, quando De facto, a classe média norte-americana é aqui retratada de uma forma quase distópica: um grupo social envolto numa enorme paranóia em torno das aparências e do "parecer bem", obcecado com o politicamente correcto e o socialmente aceitável, procurando manter segredos, tabus, preconceitos e imperfeições escondidos através de uma casa bonita, um relvado impecável, um carro novo, uma boa gravata. O patriarca da família vive uma crise de meia idade através da nostalgia da juventude passada e mal-aproveitada, ao ponto de sentir uma subita atracção sexual por uma adolescente. A sua esposa, por sua vez, é o arquétipo da frivolidade e vazio, vivendo um casamento de aparências e descontando tudo através de um caso extra-conjugal. A filha deste disfuncional casal é a típica jovem rebelde... até que decide conspirar com o namorado para matar o próprio pai. E há muito mais ao longo do filme. Personagens caricaturais num retrato distópico e desconfortável, principalmente para quem se identificar com a classe média suburbana dos EUA (não é, de todo, o meu caso). Kevin Spacey, Annette Bening e Thora Birch são o trio central de actores que dão vida a uma família que está para lá de anormal. Apesar disso, os três tiveram performances excelentes e de facto mereceram ser premiados e reconhecidos por isso. Mena Suvari também me pareceu bem no papel da ninfeta provocadora. Sam Mendes assegurou uma direcção cuidadosa, ousada e inspirada. Tendo sido o primeiro filme onde participou como director, foi decerto um marco na sua carreira e assegurou-lhe um futuro. Provocador, ousado, perturbador, é um filme onde os tabus são postos em xeque e verdades incómodas são expostas. Não é, de modo nenhum, um filme familiar ou para ver com crianças e jovens por perto.