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Assassinos por Natureza (1994)
Eles são assassinos... e astros da mídia!
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 17 de Novembro de 2023**Uma crítica brutal à nossa sociedade em que o próprio filme tira proveito daquilo que está a criticar.** Oliver Stone não é um dos meus directores preferidos. O que acontece quando se junta a Quentin Tarantino? Isto. O roteiro escrito por Tarantino é uma autêntica carnificina que massacrou não só um número aleatório de figurantes, mas, também, a cultura popular. Desde que apareceram os meios de comunicação de massas que, pontualmente, surgem vozes alarmistas e altissonantes a alertar para os enormes perigos que acarretam. Com o passar das décadas, as críticas têm feito coro em torno do apreço pelo que é violento ou tem conotação sexual. Eu concordo com algumas, senão a maioria das críticas, embora não possa aceitar que se considerem as pessoas estúpidas a ponto de começarem a fazer massacres ou orgias sexuais só por influência do que vêm em certos programas de TV. A larga maioria das pessoas não se deixa influenciar assim, e quem permite isso já tem em si, a priori, uma necessidade imperiosa de acompanhamento psicológico. O filme parte desta premissa para criar uma história bizarra em que um casal terrível de assassinos, sanguinários e sádicos a um ponto extremo, acabam por ser transformados em autenticas superestrelas “pop”, com legiões de fãs, entrevistas e um frenesi público à volta dos seus actos violentos, e da caça desalmada que a polícia lhes faz. Eu aprecio os tons satíricos dados ao filme, que mostra uma sociedade onde se cultua tudo o que num mundo normal só merece ser execrado. Porém, ao enveredar por este caminho, é parte do “problema” e é tão extremamente violento que incomoda qualquer ser humano com um mínimo de compaixão. Tudo neste filme tem o toque de Tarantino implícito numa histeria latente e presente em quase tudo: a direcção é crua, rude, a banda sonora é intrusiva e a edição utiliza cortes brutais, rápidos e cenas que um epiléptico não aguentaria, incluindo cortes súbitos de filmes a preto-e-branco, noticiários de TV e outros materiais. Os efeitos visuais são de excelente qualidade, mas chamativos. A acção rápida transforma o filme numa corrida através de um mundo de violência extrema, personagens histriónicas e desagradáveis e barulho incessante. Os diálogos foram escritos para serem gritados em vez de falados, e o uso abundante de palavrões pode fazer zunir os ouvidos de algumas pessoas. Há um elenco muito forte neste filme que merece destaque pelo trabalho soberbo que dá ao público. Woody Harrelson é convincente e adequadamente sádico no seu papel, que é um dos mais brutais e impactantes da sua carreira até hoje, e Juliette Lewis, apesar de não ser particularmente “sexy” como requerido pela personagem, é crível, inteligente e agradavelmente viperina. Robert Downey Jr., que ainda estava longe do estrelato a que chegou em anos recentes, é verdadeiramente demolidor na parte final do filme e Tommy Lee Jones, um veterano sempre competente, é adequadamente tresloucado, como se não tivesse mais a noção da realidade e não tivesse qualquer medo de abusar dos poderes em que foi investido. Tom Sizemore acaba por ser o actor mais contido entre aqueles que o roteiro mais privilegiou.