Arizona Nunca Mais (1987)

Filipe Manuel Neto

Escrita em 18 de Maio de 2024

**Mais uma adição honrosa à filmografia notável do Irmãos Cohen.** Já vi vários filmes dos Irmãos Cohen e este, longe de ser um dos mais citáveis quando se fala neles, está cheio de qualidades que merecem nota. Os dois irmãos são conhecidos e respeitados pela forma como criam e dirigem os projectos cinematográficos, dando pouco espaço a interferências que perturbem a visão de conjunto que delinearam, e interferindo activamente em todos os aspectos da produção. É o filme deles, são eles que definem as características e, goste-se deles ou não, é indubitavelmente um duo talentoso. E sendo uma obra de autor, este filme obedece a diversas características que são imagem de marca dos dois cineastas. Este é um trabalho cheio de irreverência, onde a narrativa se destaca pela bizarria e sarcasmo, inteligentemente construídos e trabalhados de maneira a surpreender o público. A história é simples: um casal, que se conhece e se apaixona nas condições menos ortodoxas, descobriu que não pode ter filhos e, por isso, decide raptar um bebé a uma família que teve quíntuplos. Há todo um historial de crime na vida de um dos membros do casal que contribui para que eles sejam alvo de uma perseguição brutal por parte de um caçador de prémios selvagem. E há muitos momentos de humor ácido e difícil de digerir. Soma-se a isto a cinematografia e a banda sonora, onde os Cohen estão totalmente a vontade. Pessoalmente, devo dizer, não gostei muito da banda sonora que se colocou neste filme. Achei-a excessivamente intrusiva e estridente, mas isto é apenas e só o meu gosto pessoal. Além das notas artísticas e de autor, o filme apresenta também um elenco habilidoso onde Nicholas Cage tem espaço e material de sobra para brilhar. Ele é carismático o suficiente para dar à personagem dele toda a simpatia que necessita para nos cativar, e faz um bom par romântico com Holly Hunter, que recebeu uma personagem talhada à medida das suas capacidades e talento. Os dois actores têm tudo para fazer um trabalho excepcional, e não há dúvidas que não nos deixam decepcionados. Trey Wilson, Frances McDormand, John Goodman e Randall Tex Cobb somam-se ao projecto, com todo o seu talento, para darem brilho a personagens secundárias muito bem feitas.