Amadeus

Amadeus (1984)

19/09/1984 Drama, História, Música 3h 0min

80%

Avaliação dos usuários

Escrever uma Crítica

O Homem... O Músico... O Gênio...

Sinopse

Após tentar se suicidar, Salieri confessa a um padre que foi o responsável pela morte de Mozart e relata como conheceu, conviveu e passou a odiar Mozart, que era um jovem irreverente mas compunha como se sua música tivesse sido abençoada por Deus.

Saul Zaentz

Produtor

Michael Hausman

Produtor Executivo

Bertil Ohlsson

Produtor Executivo

Miloš Forman

Diretor

Peter Shaffer

Roteirista
Críticas dos Especialistas
Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 8 de Maio de 2022

**Um filme magnífico, mas absolutamente ficcional e quase um insulto a Mozart e a Salieri.** Após ver este filme, a minha mente divide-se muito e eu fico sem saber realmente como hei-de o julgar. É impossível negar a enorme qualidade do trabalho de Milos Forman, o filme é mesmo muito bom e quase obrigatório para os fãs de música clássica. Todavia, não podemos esquecer-nos de que é apenas um filme, e que é largamente baseado numa peça da Broadway, e não na vida real de Wolfgang Amadeus Mozart. Com efeito, as peripécias e figuras históricas não foram retractadas com justiça, e o filme funciona como um insulto à memória de Mozart e Salieri. De facto, um dos pontos mais fracos — senão o mais fraco — do filme é o roteiro parcial, cheio de inverdades, baseado na peça dramática de Peter Shaffer. Aqui vemos Salieri, consumido pelos remorsos e convencido de que matou Mozart, relatar a sua vida e a sua convivência com o génio. Vemos Mozart pelos seus olhos, como um homúnculo desprezível e mulherengo a quem Deus, injustamente, dotou de uma genialidade e vocação musicais que Salieri invejava. O roteiro, em contraponto, transforma o mestre italiano num fanático beato, de talento discutível, sem moral ou carácter, não obstante ter atingido os píncaros da realização pessoal graças a um soberano melómano, numa corte dominada por músicos e gostos italianos. Como é fácil de ver, o filme exagera e inventa imenso acerca das personagens, fruto do grande desconhecimento que temos acerca delas. De facto, não sabemos muito acerca de como era Mozart na intimidade, e muito do que sabemos vem de fontes discutíveis. Salieri também é uma personagem sobejamente desconhecida, sendo que, ironicamente, o filme ajudou a despertar o interesse pela sua música. Não tenho nada contra a liberdade criativa dos argumentistas ou a necessidade de preencher lacunas na informação… o que realmente me parece errado é que tais lacunas tenham permitido aquilo que, se Salieri e Mozart ainda estivessem vivos, seria de certeza considerado uma gigantesca difamação e ofensa ao bom nome de ambos. Sendo eu um historiador, isto é algo que eu, simplesmente, não posso aceitar nem desculpar. Acerca do elenco, posso dizer que gostei muito das performances de F. Murray Abraham e de Tom Hulce. Ambos foram verdadeiramente bons, encheram as suas personagens de carisma e de força, ensombrando o restante elenco e dando força à história. Também Elizabeth Berridge e Roy Dotrice merecem um louvor pelo trabalho feito, tendo sido os dois únicos actores que conseguiram sobressair e sair dessa penumbra onde o elenco ficou mergulhado graças aos dois protagonistas. Mas é a nível técnico que o filme se destaca de maneira mais notória: a cinematografia é linda e a forma como o filme capta e aproveita a luz é verdadeiramente impressionante, e mais ainda se considerarmos que foram feitos esforços para não usar iluminação artificial. Isto é, quase só observamos a luz solar e a luz das velas. Notável! Também os figurinos foram muito bem executados e estão cheios de pormenores, ainda que eu possa considerar haver alguns erros e omissões e que tudo foi pensado mais do ponto de vista da estética do que do rigor histórico. Quanto aos cenários, eu não tenho rigorosamente nada a apontar. A escolha de Praga como alternativa para Viena foi muito inteligente e grande parte do filme foi filmada em vários locais incríveis, dando ao filme um toque adicional de verosimilhança e realismo. E claro, sendo um filme acerca de um compositor tão genial como Mozart, a banda sonora só podia ser dele. O filme venceu oito Óscares. É algo impressionante e que julgo que não se irá ver tão cedo nos prémios da Academia de Hollywood: Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Director, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direcção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Som e Melhor Maquilhagem. Venceu igualmente quatro Globos de Ouro (Melhor Filme Dramático, Melhor Roteiro de Cinema, Melhor Actor de Cinema Dramático, Melhor Director de Cinema) e quatro BAFTA em categorias técnicas (Melhor Som, Melhor Maquilhagem, Melhor Edição e Melhor Cinematografia). É um palmarés invejável. Só lamento que o filme não seja antecedido de uma nota de aviso informando que a história contada é ficcional, ainda que as personagens não o sejam.

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