A Outra História Americana
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A Outra História Americana (1998)

01/07/1998 Drama 1h 59min

83%

Avaliação dos usuários

Escrever uma Crítica

Unidos pelo ódio, divididos pela verdade. Alguns legados devem chegar ao fim.

Sinopse

Derek busca vazão para suas agruras tornando-se líder de uma gangue de racistas. A violência o leva a um assassinato, e ele é condenado pelo crime. Três anos mais tarde, ele sai da prisão e tem que convencer seu irmão, que está prestes a assumir a liderança do grupo, a não trilhar o mesmo caminho.

Tony Kaye

Diretor

John Morrissey

Produtor

David McKenna

Roteirista

Bill Carraro

Produtor Executivo

Kearie Peak

Produtor Executivo

Steve Tisch

Produtor Executivo

Lawrence Turman

Produtor Executivo
Críticas dos Especialistas
Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 11 de Agosto de 2021

**No geral, e relevadas as suas fraquezas de roteiro e direcção, é um filme muito bom.** Gostei muito deste filme. Lançado em 1998, continua extremamente actual e pertinente hoje, em meio a um mundo onde o ódio e a intolerância parecem ter-se instalado para ficar. Não falo apenas dos nazistas, mas de tantos outros que se odeiam mutuamente pelas mais diversas e, não raras vezes, mais idióticas razões. O filme segue o percurso de dois irmãos no mundo dos neonazis: Derek, o mais velho, chegou a ser o líder do gangue local, formada para resistir ao que eles consideravam como sendo uma invasão do seu bairro por negros, latinos e outras raças. Acontece que ele acabou por matar, a sangue-frio, dois negros, sendo preso por isso, deixando o seu irmão mais novo, Danny, perdido e confuso. Quando sai da prisão, descobre que o irmão seguiu as suas pisadas e está agora a ser doutrinado para se tornar igual a ele, chegando a escrever uma redacção carregada de doutrina neonazi para um professor negro da escola dele… mas a prisão muda as pessoas, e Derek não segue mais aquelas ideias. Por isso, decide colaborar com o professor e as autoridades, e tentar impedir que o irmão se torne numa pessoa tão violenta e nociva quanto ele. Dirigido por Tony Kaye, o filme foi produzido sob o signo da discórdia, com brigas constantes em que o director se opunha às revisões e alterações exigidas pelos actores ao seu material e ideias. As coisas chegaram ao ponto de o director querer desistir, e ver o nome removido dos créditos! Pessoalmente, e após ver o filme, sinto que a direcção não é segura e o filme parece não saber para aonde ir, por vezes. O roteiro, por seu turno, traz-nos um drama familiar poderoso e aborda temas duros, pertinentes e actuais, como a desestruturação da família, das comunidades locais de bairro, da imigração ilegal, do ódio entre raças e religiões. O roteiro consegue inclusivamente evitar retractar os neonazis de modo simplista e unidimensional, como bestas fanatizadas e sem qualquer humanidade, como outros filmes teriam feito. Mesmo assim, é uma narrativa simples, por vezes simplória e pouco desenvolvida, em que os detalhes por vezes soam inverosímeis. Um dos pontos menos desenvolvidos e mais importantes do filme é a história de Derek na prisão: é inconcebível que um individuo tão doutrinado e fanatizado mude radicalmente com tão pouco. O elenco é muito bom e, sem dúvida, um dos pontos fortes do filme. Edward Norton provou ter feito a escolha certa quando decidiu protagonizar este filme ao invés de ser só mais um actor em *O Resgate do Soldado Ryan*. O filme é perfeito para ele, e as alterações que o próprio foi fazendo ao material que recebia permitiram-lhe aprimorar a personagem, limar arestas e tornar o fruto do seu trabalho ainda mais maduro e sumarento. O actor é excepcionalmente bom, já o disse em outras ocasiões, e este filme mostra, mais uma vez, o seu talento. Ao seu lado está Edward Furlong, um jovem e promissor actor que, como sabemos, nunca descolou. Ele é bom, e mostra-nos isso, mesmo num filme em que a personagem é relativamente secundária na trama. Stacy Keach aparece pouco, mas consegue parecer ameaçador e subversivo. Beverly D’Angelo é boa, mas recebeu uma personagem apagada e Avery Brooks limitou-se ao que tinha de fazer e a sua personagem soa, assim, amorfa e desinteressante. De referir ainda as aparições honrosas de Fairuza Balk (em mais uma personagem ligeiramente excêntrica) e de Ethan Suplee. Tecnicamente, é um filme com muitos pontos de valor a seu favor, começando logo por um bom trabalho de filmagem e de cinematografia. O recurso ao preto-e-branco para diferenciar todos os flashbacks funcionou na perfeição, ainda que torne, por vezes, o filme sombrio demais e me pareça ter sido utilizado de maneira excessiva. O trabalho de maquilhagem, particularmente de Norton, permite-lhe assumir uma fisionomia e atitude mais jovem, agressiva e fisicamente dura nas cenas de flashback, fazendo um bom contraponto ao retracto de maturidade e consciência que o actor nos traz depois de a sua personagem sair da prisão. Os cenários foram muito bem feitos, particularmente o quarto de Derek, com todos aqueles adereços nazistas. Os efeitos visuais, especiais e de som funcionam bem e a banda sonora, assinada por Anne Dudley, soa bem, embora seja muito semelhante a milhares de outras bandas sonoras de filmes que andam por aí.

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