A Intérprete (2005)
A verdade não precisa de tradução.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 11 de Novembro de 2021**Um excelente thriller de fundo político na sede da ONU, com bons actores e um bom director.** Gostei bastante deste filme. Quando vi os nomes do elenco e do director, Sydney Pollack, fiquei imediatamente convencido de que era um filme que eu provavelmente iria gostar de ver, e esta semana finalmente tive essa oportunidade. Não é um filme perfeito, porém… há falhas, mas eu lidei bem com elas e consegui aproveitar o melhor do filme e passar um tempo agradável. O roteiro é realmente muito bom e envolvente: com a ONU como pano de fundo, desenvolve-se uma intriga de contornos internacionais: num país fictício da África Austral, há um presidente que se transformou de herói em vilão… após libertar o seu país de uma ditadura cleptocrata, ele mesmo se transformou num ditador e conduziu uma guerra civil e uma limpeza étnica com milhares de mortos. Os seus opositores directos estão exilados, mas, misteriosamente, começam a ser assassinados… e por acaso uma intérprete linguística da ONU acaba por descobrir que ele também vai ser alvo de um atentado quando for discursar perante a Assembleia Geral da ONU, daí a alguns dias. Ela informa as autoridades, mas o polícia encarregue da investigação começa a perceber que pode ter motivos sérios para desconfiar dessa mesma intérprete, e ela pode não ser tão inocente quanto parece. O filme tem um roteiro realmente bem escrito, que vai seguramente prender as atenções dos fãs dos filmes thriller e ‘suspense’. Há aqui qualquer coisa que me fez lembrar o filme *Intriga Internacional*, talvez por ambos os filmes se concentrarem tanto na sede da ONU. É um drama de intensidade moderada, mas elegante, com um excelente ritmo, mas que falhou um pouco no fim, que senti ser pouco climáctico. O elenco é liderado de maneira eficaz por Nicole Kidman. Ela está perfeitamente a vontade neste papel, feito à medida das capacidades dela por um director que já a conhece bastante bem. Eu senti que ela não conseguiu dar à personagem um sotaque convincente para uma sul-africana branca, com a voz dela a resvalar muito para o sotaque Inglês dos EUA, nativo da actriz. A participação de Sean Penn foi igualmente bem-vinda e, apesar de parecer desgastado e sob uma dose de ‘stress’, eu pensei que isso era bom para a personagem dele aqui. Pela negativa, Catherine Keener quase desaparece na maioria do filme e tem pouco tempo e espaço para fazer alguma coisa de bom. Yvan Attal é bom o suficiente, mas também tem uma acção limitada no filme e o restante elenco só aparece pontualmente. Tecnicamente, o filme é virtualmente impecável. A cinematografia é excelente, as filmagens são realmente muito bem executadas, há boas cores, luz e uma edição muito boa. A banda sonora é pouco interessante, ficando mais ou menos dentro do que podíamos esperar num thriller caro e com bom orçamento. Composta por James Newton Howard, a única melodia que ressalta aos ouvidos é a canção com as crianças africanas, quase um ‘leitmotiv’ ao longo do filme. Finalmente, mas não menos importante, o filme soube aproveitar muito bem a oportunidade rara de poder filmar na verdadeira sede da ONU. Os cenários não podiam ser melhores.