Belas Artes à La Carte
À Beira do Abismo (1946)
76%
Avaliação dos usuários
O tipo de homem que ela odiava... Era o tipo que ela queria!
Sinopse
Howard Hawks
DiretorWilliam Faulkner
RoteiristaFilipe Manuel Neto
Escrita em 8 de Fevereiro de 2024**Um filme que seria verdadeiramente memorável se o roteiro não fosse tão mal escrito.** Em geral, eu gosto muito de filmes ‘noir’, é um estilo de cinema que me agrada. Porém, e apesar da grande reputação, eu não gostei particularmente deste filme. É bom, e do ponto de vista do estilo, dá-nos tudo aquilo que nós gostamos de ver num ‘noir’. Porém, o filme falha demasiado no que toca ao roteiro e à história que tenciona contar-nos. Isso não é um erro que eu esteja disposto a perdoar com ligeireza, principalmente se estamos a falar de uma produção ao mais alto nível e com profissionais do mais alto calibre, como é o caso. De facto, o filme é um colírio para os nossos olhos. A cinematografia a preto-e-branco é da maior elegância e a luminosidade foi magnificamente trabalhada. A nitidez é excelente e o trabalho de filmagem dá-nos algumas cenas verdadeiramente bem conseguidas e bem enquadradas. É muito difícil fazer melhor e ser mais exigente seria injusto, eu acho. Não podemos deixar de lado a banda sonora, orquestral, acompanhando cada cena com brio e aumentando notavelmente a carga dramática de alguns momentos. Os cenários são muito bem concebidos, os figurinos são excelentes (o destaque, eu diria, é o figurino de Bogart, correspondendo à imagem clássica do detective de chapéu Fedora e gabardina), os carros não podiam ser mais estilosos (eu sou suspeito para falar disso, sou um amante de carros clássicos deste período) e os adereços são excelentes. Porém, é no desempenho do elenco que o filme mostra toda a sua qualidade: num elenco encabeçado por Humphrey Bogart, não há um único actor que sintamos estar a mais ou ter sido subaproveitado. Todos tiveram o seu tempo para brilhar e mostrar talento, sinal de que o director, Howard Hawks, conseguiu gerir muito bem os talentos que tinha ao seu dispor. Bogart, como quase sempre acontece, não nos decepciona: ele está à vontade com este tipo de personagens e sabe bem como as deve interpretar, dando à personagem uma dose equilibrada de humor cínico, heroísmo contido e brutalidade bem-intencionada. São dele algumas das linhas mais citáveis e memoráveis dos diálogos. Uma outra grande actriz que podemos ver aqui é Martha Vickers. O papel dela é breve e boa parte foi cortado na pós-produção, mas a actriz é hipnótica e sensual como uma Lolita. Lauren Bacall, que era nesta época amante de Bogart e viria a ser sua esposa, é igualmente uma presença forte e impactante, mas penso que já a vi muito melhor em outros trabalhos. O que falta aqui é um vilão igualmente forte e carismático. Onde o filme claudicou foi realmente no roteiro, que nos apresenta uma história confusa e desconexa envolvendo as duas filhas mimadas de um riquíssimo general aposentado. O filme trata a história com uma displicência indecente e eu tive de fazer um enorme esforço para compreender o que se ia passando. Confesso que talvez fosse melhor não o ter feito, porque é realmente uma história fraca e mal desenvolvida, inaceitável para um trabalho desta qualidade. Não conheço o material original em que o filme foi baseado, apenas sei que deu origem a outros filmes e adaptações. Seja como for, simplesmente não consigo conformar-me e “engolir”! Isto simplesmente não pode acontecer. Mas enfim, as coisas são o que são, e é triste ver um filme com tanta qualidade ter uma falha tão imperdoável.
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