Extermínio (2002)

Filipe Manuel Neto

Escrita em 16 de Abril de 2020

**Mais interessante do que eu pensava.** Quando me dispus a ver este filme, pensei que seria só mais um filme B de zombies. Porém, acho que me enganei. A trama é muito melhor e mais interessante. Tudo começa quando um grupo de activistas dos animais invade um laboratório para libertar chimpanzés que são usados como cobaias. Acontece que pelo menos alguns estavam infectados com um novo vírus, que se propaga pelos fluídos corporais e estava a ser estudado. Algum tempo depois disso, Jim acorda de um coma de 28 dias provocado por um acidente de carro. Para sua surpresa, não vê uma só pessoa e só ao ler alguns jornais abandonados se apercebe que, enquanto estava internado, toda a população foi evacuada ou morreu. Segue-se uma busca por alguém ainda vivo, e a luta para sobreviver. Este filme tem como pano de fundo uma pandemia Zombie, mas o foco não são os infectados ou o pânico em torno da doença e do seu combate. Quando o filme começa isso já aconteceu, a cidade está deserta e parece que toda a raça humana foi morta. É bastante intenso ver isso na tela e um ponto muito positivo. Fiz um esforço para não me prender em detalhes, se começarmos a pensar muito o enredo revela falhas de lógica. As coisas pioram na metade final, com os soldados a comportarem-se como mercenários, além de manterem um "forte" de uma maneira invulgar, sem qualquer tipo de reabastecimento de munições ou géneros... é como eu digo: se nós pensarmos nos detalhes do enredo, ele desmorona-se. O melhor do filme é focar-se nas personagens e permitir-nos criar um elo afectivo com elas à medida que as vamos conhecendo melhor. Isso não é muito comum nestes filmes. Cillian Murphy fez um bom trabalho, muito psicológico. Conseguimos ver os conflitos internos que a personagem dele vive, particularmente quando se confronta com a morte (a de pessoas que lhe são queridas, a de pessoas que tem de matar para se manter vivo). Era o mais anónimo dos actores do filme, mas o esforço compensou: abriu-lhe portas para trabalhos mais ambiciosos como "Rapariga Com Brinco de Pérola" e "Cold Mountain". Naomi Harris é excelente também, tem a presença e força interior que a personagem dela necessitava. Tal como Noah Huntley, que ela ensombra quase totalmente, tinha já uma carreira firme na TV. Brendan Gleeson também é um veterano e faz um excelente papel aqui. O pior foram os soldados. É a partir daí que o filme começa a perder-se gradualmente até chegar a um final bastante fraco, ao estilo do Rambo, ou coisa parecida. Mesmo assim, é um filme que é superior a muito lixo americano que circula por aí. Tecnicamente, é um filme muito interessante. A direcção, assegurada por Danny Boyle, aposta fortemente em efeitos especiais discretos e que acentuam a tensão dramática e o suspense sem se sobreporem ao trabalho dos actores ou à história. Acho que Boyle percebeu que esse é, de facto, o papel dos efeitos especiais e sonoros, muito em contraciclo ao que vemos em filmes americanos, onde o uso e abuso de efeitos e CGI fazem por vezes esquecer o que se passa no filme. No cômputo geral, é um bom filme, embora com falhas.