Preciosa: Uma História de Esperança (2009)

Filipe Manuel Neto

Escrita em 29 de Março de 2021

**Profundo, emotivo, é um filme que nos faz pensar.** É difícil ficar indiferente perante um filme como este, onde os temas abordados são tão duros e vemos alguém levar uma vida tão difícil sem ter culpa disso. Profundamente intenso, é um filme que nos emociona, também, pela forma como as personagens são trabalhadas, ao nível da sua psicologia e sentimentos. O roteiro, brilhantemente escrito, baseia-se num livro autobiográfico e conta o trajecto de uma jovem, de origens humildes e poucos estudos, que foi abusada pelo pai e teve filhos com ele. O filme conta a forma como ela se agarrou a uma escola alternativa e à oportunidade de aprender para se ver livre de uma vida terrível e destrutiva. Apesar de o valor dos prémios ser sempre muito relativo e por vezes injusto, vale a pena mencionar que o filme ganhou dois Óscares (Melhor Actriz Secundária e Melhor Roteiro Adaptado) e foi nomeado para mais quatro estatuetas (Melhor Edição, Melhor Director, Melhor Actriz e Melhor Filme). A direcção de Lee Daniels soube dar um desenvolvimento coerente, inteligente e hábil, tanto à história quanto às personagens, revelando gradualmente as suas motivações, sentimentos e dramas internos. Pela vida da jovem protagonista passam diversas figuras, algumas delas muito marcantes – um pai desprezível, uma mãe abusiva – e outras luminosas – a professora da escola, o enfermeiro. Outras há que representam a promessa de um futuro melhor, como os filhos dela, em simultâneo, o motivo para ela lutar por uma vida melhor e o prémio a alcançar nessa luta. E há personagens que, claramente, ficam pelo caminho e se afundam na vida que levam. Não é um filme feliz, nem há aqui um final feliz para todos. O elenco merece um aplauso colectivo pelo trabalho que desenvolveu. Gabourey Sidibe, quando fez este filme, era muito jovem e pouco conhecida, mas revelou-se uma promessa pelo talento demonstrado e pela sua actuação intensa, credível, empenhada e séria de uma personagem que tinha tudo para se tornar enjoativa se faltasse ao actor a habilidade para evitar isso. E isso ainda é mais notável se considerarmos que foi o primeiro trabalho cinematográfico da actriz que, no entanto, tem estado mais activa nas séries de televisão. Igualmente intenso e impressionante, o trabalho de Mo'Nique merece um aplauso pela forma corajosa como se entregou a uma muito difícil tarefa: dar vida à personagem mais horrível do filme de uma forma que nos comove e nos faz sentir verdadeiramente pena dela, e não ódio. Pessoalmente, adorei a forma como ela fez a personagem e valorizo muito a sua entrega e profissionalismo. Mariah Carey também esteve à altura do desafio e deu-nos um excelente trabalho. Tecnicamente, é um filme muito discreto, que dá à história contada e às personagens o espaço necessário para se desenvolverem como merecem. A cinematografia é elegante e os cenários e figurinos estão dentro daquilo que poderíamos esperar. A banda sonora também não tem muito espaço para sobressair, cumprindo o seu papel discretamente.