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Daunbailó (1986)
Não é onde você começa - É onde você começa de novo.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 16 de Novembro de 2023**Não é um filme para quem procura suspense ou acção, mas é perfeito para quem quer um filme sólido com personagens muito bem desenvolvidas.** Dirigido e escrito por Jim Jarmusch, este filme, obviamente, nunca iria ser um drama de acção carregado de suspense. O director parece preferir algo mais subtil, privilegiando o trabalho da cinematografia, com ângulos de filmagem e enquadramentos muito bons e o uso de bons cenários. É precisamente o que temos neste filme, onde acompanhamos um homem numa história bizarra: ele ficou desempregado, precisa urgentemente de algum dinheiro e aceita um trabalho aparentemente simples. Porém, esse trabalho não era mais do que uma cilada: acusado de um crime que nunca cometeu, vai preso e acaba junto de outro homem injustiçado e de um italiano, que quase não fala inglês, mas que arquitecta um plano de fuga onde os três resolvem cooperar. O ponto forte deste filme é o desenvolvimento das personagens. Nunca está em causa os eventuais crimes que cometeram e as injustiças pelas quais passaram, tudo isso só serve para os colocar aos três naquela cela penitenciária juntos. É aí que o filme realmente se torna melhor e mais interessante, após uma introdução lenta, algo demorada, mas talvez necessária. Cada uma das três personagens principais tem direito ao seu tempo e espaço para se desenvolver e para mostrar o seu carácter, personalidade e modo de agir. Com o tempo e a convivência forçada, e a criação de um plano comum de fuga, eles criam uma ligação de confiança que o filme torna convincente e bastante credível. A nível técnico, os pontos fortes deste filme são a cinematografia a preto e branco, os cenários e figurinos credíveis, um roteiro bastante bem escrito e uma excelente edição. É um filme que não nos toma muito tempo, que vemos rapidamente em menos de duas horas. Não tem uma banda sonora muito notável, mas também não precisa disso. E claro que a direcção de Jarmusch faz um trabalho muito sólido, apesar da certa inexperiência que o director ainda tinha, e que o inclina mais ao experimentalismo do que a qualquer tipo de insegurança evidente. Tom Waits e John Lurie fazem um excelente trabalho com as suas personagens e conseguem, efectivamente, dar resposta positiva aos desafios que lhes são colocados. Porém, é o italiano Roberto Benigni quem mais brilha no elenco. É actualmente um cineasta e actor muito conceituado, mas nesta época não era assim tão conhecido do grande público internacional. Com uma leveza gentil e a criatividade que o caracterizam em quase todo o seu trabalho, o actor domina cada cena onde aparece e é verdadeiramente agradável vê-lo trabalhar aqui, com a sua digníssima esposa, Nicoletta Braschi, que tem um papel menor perto do fim do filme.