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Hoffa: Um Homem, Uma Lenda (1992)
O homem que estava disposto a pagar o preço pelo poder.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 25 de Maio de 2022**Quem tramou Jimmy Hoffa?** O mistério em torno do desaparecimento e morte de Jimmy Hoffa é talvez um dos casos policiais por resolver mais interessantes e famosos dos EUA. Hoffa era um dos mais importantes líderes sindicais e socialistas norte-americanos: ele era um militante sindical antigo, prestigiado, cujas acções foram determinantes na formação de um dos maiores sindicatos do país, o sindicato dos motoristas de camião. Acontece que, tal como o filme mostra, Hoffa se envolveu muito cedo na teia da Máfia, permitindo que o crime organizado se financiasse à custa dos fundos de pensões do sindicato em troca de avultadas contrapartidas. Preso e afastado de cena, Hoffa tornar-se-á incómodo após ser liberto, desaparecendo sem nunca se perceber como, quando e quem o matou efectivamente. O filme, de acentuado cunho épico, faz-nos sentir como se estivéssemos diante de uma grande obra cinematográfica. De facto, com quase duas horas e meia de duração, é um filme grande, mas não é um daqueles que eu colocaria no panteão dos mais consagrados. A direcção de Danny DeVito é eficaz, muito honesta e competente, e imprime ao filme uma série de recursos visuais e estilísticos interessantes, mas não produziu um filme tão eterno quanto o director desejava: o filme foi um fracasso de bilheteira, a crítica não foi simpática e os prémios mais almejados pura e simplesmente ignoraram-no. Isso pode, em parte, resultar da ambiguidade do filme, que quer exaltar o trabalho de Hoffa à frente do sindicato, mas não pode evitar mostrá-lo, também, como um homem corrupto e inescrupuloso, maculado pela sua ligação ao submundo do crime. Para o público americano, familiarizado com esta figura, a questão não se coloca tanto, mas senti que o filme parte do princípio que o público conhece a vida de Hoffa, pelo menos de modo genérico, o que não é o meu caso. A solução foi, claro, ler alguma coisa sobre ele, mas nem todos têm a paciência que eu tenho e penso que isto limitou muito o público que o filme poderia captar. O papel principal é habilmente assegurado por Jack Nicholson. Confesso que nalgumas cenas eu quase não o conheci, e sinto que nessas cenas ele terá tido necessidade de maior maquilhagem, ou de alguma suplementar para parecer mais velho. O actor brilhou, fez um trabalho excelente e meritório, mas Danny DeVito não lhe fica muito atrás, numa personagem densa que condensa em si mesma retalhos de muitas pessoas reais que gravitaram em torno de Hoffa. O filme aproveita muito bem a cinematografia e tem vários ângulos de filmagem originais e bem executados (a cena onde DeVito, numa casa de banho, ri estrondosamente à medida que o seu reflexo surge, ininterruptas vezes, nos espelhos, é das mais notáveis). Há uma série de filmagens boas em vários locais, mas também em estúdio. Os cenários e os figurinos são bons o bastante e ajudam-nos muito a perceber os avanços e recuos temporais do roteiro (de facto, falta inserir aqui mais alguns elementos que nos façam distinguir claramente as épocas e períodos do ano). Por fim, uma palavra de apreço para os efeitos visuais e especiais, muito bem utilizados, e ainda para a banda sonora, que executa o seu trabalho realmente muito bem.