Mr. Bean – O Filme (1997)
Um homem. Uma obra-prima. Um erro muito grande.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 5 de Março de 2024**Problemas sĂ©rios de harmonização.** Depois do enorme sucesso de Mr. Bean, era razoavelmente previsĂvel que, mais tarde ou mais cedo, irĂamos ver Rowan Atkinson a desempenhar as suas tropelias habituais numa produção cinematogrĂĄfica. PorĂ©m, e apesar dos esforços do actor, a verdade Ă© que nunca seria a mesma coisa, nem poderia ser, e Ă s vezes as piadas sĂŁo tĂŁo forçadas que acabam por simplesmente perder a sua eficĂĄcia. Neste filme, Bean arranjou trabalho na National Gallery, de Londres. Um trabalho que Ă© aparentemente seguro, se considerarmos que a personagem se mete em confusĂ”es atĂ© nas tarefas mais simples: ele Ă© vigilante e fica sentado numa cadeira enquanto os visitantes e turistas circulam. O problema Ă© que, tratando-se de Bean, sabemos que as coisas se vĂŁo complicar quase por artes mĂĄgicas: e os directores da galeria ficam muito felizes quando os curadores de um museu californiano adquirem uma notĂĄvel pintura de um autor norte-americano e um perito para falar sobre ela numa cerimĂłnia de apresentação: Bean Ă© quem os directores mais desejam ver pelas costas, portanto eles nem sequer hesitam. A partir daqui, o desastre estĂĄ Ă espera de acontecer. Vamos ser sinceros: o filme Ă© engraçado e funciona razoavelmente bem. Ă uma comĂ©dia de boa qualidade, e que tambĂ©m teve ĂȘxito nas bilheteiras (embora isso nĂŁo seja sinĂłnimo de qualidade, porque tambĂ©m Ă© verdade que hĂĄ muitos filmes bem piores, como âTedâ, que tambĂ©m se venderam bem). NĂŁo lhe podemos apontar defeitos que nĂŁo tem de todo. Para mim, o maior defeito deste filme Ă© o pĂșblico, que criou expectativas muito elevadas Ă custa do sucesso gigantesco da mini-sĂ©rie de catorze episĂłdios (apenas!) que Atkinson corporizou nos anos 90. Quem estiver Ă espera de ter a mesma experiĂȘncia com este filme vai ser sempre decepcionado. As coisas nĂŁo sĂŁo iguais, nĂŁo funcionam da mesma forma e tudo Ă© um pouco mais exagerado e forçado. PorĂ©m, seria difĂcil para uma produção norte-americana fazer um filme longa-metragem com Bean de outra maneira. O filme tem um grande cuidado e atenção com os cenĂĄrios, a cinematografia, os figurinos e os efeitos utilizados, mas estĂĄ ainda assim dentro do âstandardâ dos filmes ligeiros que os EUA lançavam nesta Ă©poca. NĂŁo Ă© nada de verdadeiramente excepcional. Ao longo do filme, acontecem situaçÔes que procuram recriar o estilo de humor de Atkinson, que faz o possĂvel para evitar falar, mas ainda tem de o fazer ocasionalmente. Podemos dizer que o actor fez um enorme esforço, mas que tambĂ©m encontrou problemas para adaptar a sua receita ao estilo cinematogrĂĄfico norte-americano. Ă como tentar vestir uma criança com o fato de um homem adulto: vai parecer bizarro, desarmĂłnico e feio, mas ela estĂĄ vestida. Pelo meio, temos ainda a destacar positivamente o trabalho de Peter MacNicoll, e claro, sendo eu um historiador e um apreciador de arte, tenho de parabenizar o aproveitamento da ocasiĂŁo para dar a conhecer ao grande pĂșblico uma magnĂfica pintura que realmente existe: Arranjo em Cinza e Preto nÂș 1. Ela foi pintada por James Whistler e pode ser vista no Museu de Orsay, em Paris.