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Os Imperdoáveis (1992)
Algumas lendas nunca serão esquecidas. Alguns erros nunca podem ser perdoados.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 28 de Novembro de 2020**Um dos melhores ‘westerns’ de sempre.** Vou começar a minha resenha dizendo que nunca tive os filmes do género ‘western’ em grande consideração ou estima. Não é o tipo de filme que eu realmente goste de ver. Porém, decidi dar uma oportunidade a este filme porque ouvi falar muito bem dele. E eu vi-o a pensar “se eu não gostar rigorosamente nada deste filme nunca mais vejo um ‘western’ na minha vida”. Ao terminar, eu apercebi-me que gostara muito do filme. Não é o melhor filme que eu já vi e não vai nunca ser um dos filmes preferidos, mas é realmente bom e mudou o modo como eu vejo os filmes ‘western’. O filme gira em torno de uma agressão brutal contra uma prostituta: após uma situação muito embaraçosa, um homem atacou-a com uma navalha e cortou-lhe o rosto, num ataque que fez as restantes meninas da casa clamarem por sangue. Acontece que o xerife da pequena cidade decidiu ser brando com os homens e deixar as coisas por isso mesmo. Perante essa atitude, as prostitutas põem a cabeça dos agressores a prémio, e uma série de caçadores de recompensas começa a surgir, para desespero do xerife, que vai ter de os enxotar brutalmente. Para mim, há três características essenciais que tornam este filme verdadeiramente grandioso. A primeira é a eficácia e credibilidade do roteiro, isto é, a perspectiva despojada, brutalmente realista, que a história contada nos dá acerca do Velho Oeste, e que está muito longe do épico e do ‘western’-spaghetti. O roteiro não faz idealizações e as personagens são pluridimensionais e têm muitos matizes psicológicos: a violência é quotidiana, brutal, feia e as atitudes violentas das personagens são motivadas por covardia, interesse, ganância ou orgulho. A segunda característica que torna este filme grandioso é o excepcional trabalho de cada actor e, muito particularmente, de Clint Eastwood, que acumula as funções de actor protagonista e director. Ele tem um carisma inato e um talento esmagador, e a personagem dele (um antigo assassino brutal que se regenerou por amor e viver uma vida pacata com os filhos antes de ser chamado para um último crime) é a mais rica e difícil, bem como a transformação gradual que ela vive ao longo do filme. Do outro lado da lei está o camaleónico Gene Hackman, que dá vida ao xerife. Ele é perfeito para o papel e foi capaz de rechear a sua personagem de credibilidade e brutalidade. Muito menos agradável foi Jaimz Woolvett, mas eu penso que isso se deve ao facto de interpretar uma personagem jovem, impulsiva e fanfarrona. O filme conta ainda com extraordinários contributos de Morgan Freeman, Saul Rubinek e Richard Harris. Tecnicamente, é um filme impecável a vários níveis. Clint Eastwood é um excelente director e é muito meticuloso no seu trabalho. Ele aproveita bastante bem a longa experiência que tem como actor de filmes ‘western’ e usa-a num filme que dirige e onde actua. A cinematografia é excelente, e o trabalho de filmagem foi muito bem conseguido. A cor, a luz, o uso das sombras mais perto do final, são detalhes que conferem ao filme uma nota artística. O trabalho de edição e de pós-produção foi excelente: o filme tem o ritmo certo, não há momentos mortos e nem cenas que surjam fora de lugar ou pareçam despropositadas. Os cenários e os figurinos também são excelentes e denotam algum cuidado e respeito pelo rigor histórico e pelo trabalho de reconstrução da época. As cenas de acção e de tiroteio foram muito bem feitas e vão fazer as delícias dos apreciadores. Por fim, devo deixar uma nota breve à banda sonora, muito discreta, mas eficaz e totalmente de acordo com a tónica e o ambiente do filme.