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Uma Noite Sobre a Terra (1991)
Cinco taxis. Cinco cidades. Uma noite.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 13 de Dezembro de 2023**Resumindo, as cidades à noite são bonitas e os taxistas geralmente conduzem mal.** Este filme concentra as suas atenções em cinco curtas histórias que aconteceram quase à mesma hora e na mesma noite a cinco taxistas de cinco cidades: Los Angeles, Nova Iorque, Paris, Roma e Helsínquia. Dirigido e escrito por Jim Jarmusch, não é um filme pretensioso, muito pelo contrário, e faz o que os filmes devem fazer: entreter-nos com cinco boas histórias. Obviamente, sendo Jarmusch, essas histórias abordam muito o lado mais humano de personagens comuns. Acerca das histórias contadas pelo filme, podemos resumi-las numa mensagem que não irá agradar aos taxistas: neste filme, eles conduzem terrivelmente mal e dificilmente se revelarão competentes no seu trabalho. A história ambientada em Los Angeles talvez seja a mais desinteressante porque, de facto, nada acontece a não ser a viagem de táxi. Também não gostei muito da história ambientada em Paris, afinal nenhuma daquelas personagens se mostrou minimamente simpática, eram todos muito idiotas. As restantes são melhores: a história ambientada em Nova Iorque é bastante comovente e mostra o lado mais humano e compreensivo de um rabugento (parece que eles são todos assim) nova-iorquino; já em Roma, temos um espirituoso taxista que resolve aproveitar a corrida com um padre para lhe confessar os seus mais escabrosos pecadilhos de alcova; em Helsínquia, por fim, está um taxista sofrido a contar as suas amarguras a três passageiros bêbados. Tudo bem, o filme não é propriamente o mais interessante e o mais apelativo, não tem um roteiro chamativo e as histórias contadas não são sequer nada de brutalmente interessante, mas a verdade é que o filme, com um estilo de comédia muito bizarro, funciona. E para isso contribuem muito os actores, bastante bem seleccionados. Apesar de não ter gostado do segmento onde surge, Winona Ryder é bastante competente no seu papel e deixa-nos uma sensação muito agradável. Giancarlo Esposito e Armin Mueller-Stahl também não nos deixam decepcionados porque ambos interagem maravilhosamente bem e criam uma dinâmica de trabalho muito boa. Roberto Benigni é virtualmente ele mesmo, quem já se sentir familiarizado com o estilo e o humor deste singular actor italiano não encontrará grandes surpresas aqui. Matti Pellonpaa cumpre com o que precisa fazer, mas movimenta-se num registo mais discreto que qualquer colega seu. Pela negativa, achei Rosie Perez perfeitamente irritante e histriónica, Gena Rowlands é excessivamente pedante mesmo não sendo essa a sua intenção, Beatrice Dalle é rude e antipática, Isaach De Bankolé não tem qualquer interesse e parece, por vezes, estúpido no seu diálogo e nas suas atitudes. Tecnicamente, o filme transpira série B por todos os poros: a cinematografia não revela qualquer detalhe além da mediania, mas o que faz é bem feito; os efeitos visuais e de som são eficazes, mas igualmente discretos; os táxis parecem realmente ser veículos fidedignos e não adereços de teatro puxados por um qualquer reboque, como por vezes acontece. As paisagens urbanas nocturnas, com as suas luzes e néon (ainda estava muito na moda) são tudo aquilo que nós esperávamos e são bonitas, mas não são aquela beleza que nos faria ficar a olhar em êxtase. Gostei de observar o uso das várias línguas nas várias localizações onde tudo acontece. Os efeitos dos relógios e o globo funcionam muito bem, mas parecem bastante baratos na sua essência. Contudo, o que tenho de considerar mau e sem esperança de salvação é a banda sonora irritante, que parece debochar do próprio filme.