Apocalypse Now (1979)
É o fim...
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 27 de Junho de 2018**Uma crítica distópica contra todas as guerras.** Francis Ford Coppola fez de aprendiz de feiticeiro neste filme mas, ao contrário do que aconteceu com o lendário aprendiz, a magia correu-lhe bem: este filme não é sobre a Guerra do Vietname em si mesma, antes uma declaração, uma opinião, uma posição do director sobre a guerra em si, usando em particular o Vietname. É, portanto, muito mais profundo do que um mero filme de guerra, na medida em que, mostrando o lado mais sombrio desta guerra em particular, se posiciona contra todas as guerras. É um facto histórico que a Guerra do Vietname foi um desastre, quer no plano político, quer no plano militar, para os Estados Unidos. Milhares de americanos morreram sem que nenhum dos objectivos da guerra fosse alcançado. Para eles, foi o mais perto que estiveram do Apocalipse. Coppola quis dar ao público uma visão de tudo isso, não apenas através da chocante violência gráfica que pontua o filme mas, também, pela forma distópica como todo o conflito é abordado. É como se a guerra transformasse o ser humano no pior e mais cru dos animais, segundo a ideia de Coppola. Talvez isso explique, por exemplo, toda a sequência com as coelhinhas da Playboy que, de outra forma, estaria a mais neste filme e não teria um propósito definido. Elas são tão animalescas quanto os soldados, como se elas fossem objectos e não mulheres de verdade. Inicialmente, o filme foi muito suavizado através de uma edição severa, com muitos cortes. Recentemente, um DVD com uma versão estendida apareceu no mercado e devolveu ao mundo a visão deste director. Eu entendo as razões de uma edição inicial mais suave: na época, o Vietname era ainda um tema polémico e cáustico para os americanos, e Coppola queria consciencializar as pessoas e mostrar o que pensava sobre isso, mas sem ferir a moral social que imperava. Hoje as coisas são diferentes. O filme apresenta um extraordinário Marlon Brando (para mim, é o seu melhor filme depois de "O Padrinho") e um bom Martin Sheen, ao lado de Robert Duvall (que se especializaria em filmes de acção e personagens duros), Laurence Fishburne, Harrison Ford (longe do estrelato), Dennis Hopper e Scott Glenn. Todos os actores estão bem e fazem excelentes desempenhos. O filme tem um ambiente constantemente pesado e as cenas de luta foram filmadas de forma bastante realista. Conheço algumas pessoas mais velhas, que estiveram em guerra (não no Vietname mas na África Portuguesa) e que não aguentam ver este filme porque se sentem novamente na guerra e isso desperta memórias traumáticas. Então, fica o aviso: se não puder lidar com filmes violentos, for sensível, sugestionável ou menor de idade, não veja este filme. Dar bons conselhos nunca é demais, não é?