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Scarface (1983)
O mundo é seu...
Sinopse
Escrita em 1 de Dezembro de 2016
SE TODAS AS REFILMAGENS TIVESSEM A QUALIDADE DE SCARFACE, o mundo do cinema seria um lugar melhor. Dirigido por Brian De Palma, em 1983, a produção utiliza o original Scarface – A Vergonha de Uma Nação, de Howard Hawks, apenas como um ponto de partida e se transforma totalmente em um produto completamente diferente, e muito superior, diga-se de passagem. Méritos para o trabalho do roteirista Oliver Stone, na época iniciando a sua trajetória em Hollywood. Ao lado de Os Bons Companheiros, Os Intocáveis e, óbvio, a trilogia O Poderoso Chefão, o drama épico estrelado por Al Pacino é uma das obras obrigatórias do sub-gênero “filme de máfia”. Existe uma verdadeira história de ascensão e queda de um homem obcecado com o dinheiro e o sucesso. Tony Montana é um guerreiro. Um herói ao avesso. Ele inicia seus trabalhos de maneira discreta, mas sua ambição é grande demais para que ele se satisfaça em ser apenas o capanga. Não demora muito para começar a dar passos maiores que a perna para se tornar um perigoso e temido rei do crime. No entanto, como acontece com qualquer pessoa incapaz de apreciar o auge, Montana perde o controle e começa a se deixar levar pela emoção, se tornando instável por conta do seu comportamento possessivo e uma afronta para seus antigos aliados. Podemos dizer que Pacino “revisitaria” Tony Montana em O Pagamento Final, também dirigido por De Palma. Dadas as devidas proporções, claro. Longe de ser um clássico épico como Scarface, o longa-metragem lançado 10 anos depois me cativa mais por motivos pessoais, e que escrevi aqui nessa crítica. Ver Pacino em cena é sempre um deleite. Como esquecer os momentos em que, completamente alucinado, Montana pega todo o seu arsenal e começa a atirar para se defender da invasão dos inimigos durante o terceiro ato? O mais interessante, porém, é analisar o comportamento controlador e possessivo de Montana, e como a caracterização de Pacino é eficiente, com todos aqueles olhares perdidos tomados de ódio e ciúme. A sua maior vítima acaba sendo sua própria irmã, que se apaixona pelo braço direito de Montana. Insano e incapaz de aceitar que a irmã tem direito a uma vida, ele praticamente enlouquece ao tomar uma decisão sem volta em relação ao namoro da irmã mais nova. Michelle Pfeiffer, especialmente em Scarface, é a deusa do cinema de Brian De Palma, Tony Montana, minha e de todos os espectadores (independente do sexo). É impossível se manter indiferente diante a sensualidade da atriz/personagem, ainda mais se tratando de um diretor com PHD na arte do voyeurismo. Basta refletir sobre o primeiro momento em que a atriz surge em cena com um vestido verde extremamente sensual. Ao lado de Montana, o espectador (baba) acompanha os movimentos graciosos da loira fatal. Com uma tacada só, De Palma apresenta uma personagem importante, coloca em prática o seu lado safado controlado, e ainda mostra que Montana a deseja e não ficará satisfeito até conseguir roubá-la do chefe.
Filipe Manuel Neto
Escrita em 28 de Outubro de 2023**Um grande e violentíssimo filme sobre tráfico de drogas e paranóia, com grande elenco e uma grande produção, mas onde tudo é histriónico e exagerado.** Apanhei este filme ontem na televisão e decidi vê-lo na íntegra. Já tinha ouvido falar do filme e na boa prestação dramática que Al Pacino tivera nele, e por isso decidi que era o tempo de eu comprovar por mim mesmo. O filme, dirigido por Brian de Palma, marcou bastante a sua época, mas está actualmente um pouco esquecido. Compreende-se: além da violência gratuita e da crueza com que aborda o tema do tráfico de drogas, não temos aqui nenhuma personagem de que sejamos capazes de gostar e isso, de certo modo, põe uma parede entre o filme e o espectador. Brian de Palma é um director bastante sólido e que, ocasionalmente, nos dá bons filmes. Infelizmente, não vi tantos filmes dele quanto gostaria: gostei bastante de “Carrie”, que para mim é a sua obra-prima até agora, e de “Intocáveis”. Neste filme, o director fez um trabalho muito competente, principalmente do ponto de vista técnico, mas a verdade é que o filme não tem alma e, ao fim de um tempo, parece apenas uma pura carnificina. A cena da serra eléctrica, bem como o tiroteio final, são dignas de antologia. Tecnicamente, o filme é impecável e tem toques de produção de luxo: a cinematografia é realmente bonita, destaca muito bem o sol e a luminosidade da Flórida e dá-nos a real sensação do clima tropical. Os cenários e os figurinos não só se encaixam muito bem na década em que tudo acontece como conseguem enfatizar a sensação de novo-riquismo e de ascensão rápida das personagens. Claro que é tudo absurdamente kitsch, até a banda sonora nos transmite isso! Porém, não podemos esperar outra coisa de personagens sem gosto, sem cultura, sem instrução e com toneladas de dinheiro para ostentar! Porém, vou concordar se me disserem que o filme é excessivamente longo, com algumas cenas um pouco acessórias ou até mesmo inacreditáveis (aquela cena onde Gina, enfurecida, se dá sexualmente ao irmão, foi capaz de me deixar boquiaberto). Com pouco esforço, podia ter sido retirada cerca de meia hora a este filme, tornando-o mais palatável. O roteiro do filme assenta numa re-prudução de um original de 1932, que pouquíssimas pessoas conhecem, feito por Howard Hughes. Talvez o nome desse filme seja ligeiramente inspirado na figura de Al Capone, que tinha precisamente a alcunha pouco lisonjeira de “scarface”. O facto é que a história dos filmes é bastante semelhante. Numa das interpretações mais notáveis da sua carreira, Al Pacino é histriónico, desagradável e paranóico ao extremo. O exagero intencional da personagem dele pode desagradar, mas parece-me estar de acordo com um filme onde tudo é exagerado. Todavia, não considero este trabalho um dos melhores do actor, gostei mais de o ver noutros papéis. Robert Loggia e Steven Bauer dão um apoio muito feliz, mas Michelle Pfeiffer tem pouco para fazer além de parecer ‘sexy’ e fútil. Porém, Mary Elizabeth Mastrantonio e F. Murray Abraham têm personagens francamente subaproveitados.