Joe Contra o Vulcão

Joe Contra o Vulcão (1990)

09/03/1990 Comédia, Romance 1h 42min

57%

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Sinopse

O hipocondríaco Joe Banks descobre que tem seis meses de vida, abandona seu emprego sem futuro, reúne coragem para convidar seu colega de trabalho para um encontro e é contratado para pular em um vulcão por um visitante misterioso.

Críticas
Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 23 de Maio de 2020

**Uma comédia que parece usar o non-sense para tecer uma crítica inteligente à sociedade e ao mundo contemporâneo.** Este filme é uma daquelas comédias dos anos Oitenta que não ficaram propriamente para a história do cinema. Caiu num relativo esquecimento, como muitos outros filmes. Porém, não é um filme mau. Apenas esquecível. O roteiro contém muito de humor non-sense e centra-se em Joe Bank, um homem deprimido e hipocondríaco que tem um trabalho monótono num escritório impessoal de uma fábrica de sondas rectais sob as ordens de um chefe idiota. Quando um médico lhe dá apenas alguns meses devida em virtude de ter uma nuvem cerebral, Bank rompe com tudo e decide tirar todo o partido dos meses que lhe sobram. Pouco depois, é contratado por um milionário para saltar para dentro de um vulcão incandescente a fim de apaziguar as crendices de uma ilha na Polinésia. Claro, será regiamente pago para o fazer e pode gastar o dinheiro à vontade no curto tempo que lhe resta. Soa estranho o suficiente? De facto, é um filme que vai desagradar a quem prefere um humor mais racional. O filme é protagonizado por um jovem Tom Hanks, num período da sua carreira em que fez um rol de comédias e se afirmou como uma promessa na arte de representar. Ele é bom, faz o seu trabalho muito bem feito, mas Meg Ryan consegue virtualmente superá-lo ao interpretar três personagens distintas de uma forma verdadeiramente impecável. Se há alguém a quem o filme deve mérito e qualidade, é a este duo de actores, mas muito particularmente ao trabalho camaleónico de Ryan. Lloyd Bridges, Ossie Davis e Dan Hedaya também fazem um trabalho bastante bem feito. O filme tem uma cinematografia regular, mas compensa com excelentes cenários e figurinos. E acerca disso temos de nos deter um pouco, pois há uma intenção crítica subjacente ao filme que é muito perceptível no cenário e nos figurinos. Logo no início, vemos os empregados a caminho dos seus postos de trabalho numa fábrica, num estilo que lembra o filme “Metrópolis” e a transformação do ser humano – do trabalhador em particular – numa engrenagem de uma máquina, algo que está ali para fazer uma tarefa, apenas. A forma como uma flor é calcada e pisada mostra a impessoalidade e a desumanização do mundo em que vivemos. Tudo naquela fábrica faz parte de uma crítica ao nosso mundo. Depois, temos ainda críticas duras à forma como vemos a economia e o mercado: uma personagem que é seduzida para a morte certa usando cartões de crédito e a possibilidade de comprar coisas inúteis, a obsessão de ter mais um navio quando já se tem um, a preocupação em garantir um monopólio mineralífero ainda que isso signifique a morte de uma pessoa… tudo é exposto neste filme e é mais do que só uma comédia. É uma crítica dura. Até os figurinos dos indígenas polinésios, carregado de latas de refrigerante ocidentais, podem ser vistos como uma crítica à globalização e à forma como os elementos da cultura ocidental foram vendidos e implantados em países estranhos por todo o mundo. O humor e o non-sense deste filme são sátiras poderosas à nossa sociedade, que é retratada como materialista, depressiva, maníaca e gananciosa. Não sendo um filme que nos faz rir à gargalhada, funciona bem e faz sorrir. A sucessão de críticas satíricas que referi acrescenta inteligência e pertinência a um roteiro que, sem isso, ia parecer mais absurdo do que engraçado.