Mr. Holland: Adorável Professor (1995)
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 12 de Setembro de 2023**Mais um bom filme sobre professores marcantes na vida dos seus alunos: mais um.** Querido e paciente leitor, uma das coisas que eu mais gosto num filme é, além de contar uma boa história e nos entreter positivamente por uma ou duas horas, permitir-nos uma reflexão sobre diversos assuntos e temas. Esse exercício de questionamento crítico, livre e acessível ao público de massas e muito mais atractivo do que um livro de seiscentas páginas, é das mais importantes qualidades do cinema. E este filme tem imensos temas e tópicos merecedores da nossa reflexão. Convém, primeiro, dizer que o filme é muito bom! Está muito esquecido hoje e merece ser repescado pelos fãs da sétima arte. É, penso eu, a melhor obra do Stephen Herek, director que está mais focado na televisão e não particularmente bom. O mérito do filme cai, em boa parte, na grande qualidade do roteiro de Patrick Sheane Duncan, que criou a história de um compositor que passa a ser professor de música num liceu para ter algum rendimento e acaba por marcar várias gerações de alunos, ensinando-os a amar a música ao mesmo tempo que tenta proteger e apoiar o seu próprio filho que, para desgosto do pai, nasceu surdo. Em adição a uma história profunda e comovente, temos bons actores a trabalhar de uma forma muito empenhada: Richard Dreyfuss pode ser um actor que, hoje, está um pouco afastado dos holofotes, mas oferece-nos neste filme um extraordinário desempenho e foi nomeado ao Óscar de Melhor Actor (ele perdeu a estatueta para Nick Cage, que brilhou em “Morrer em Las Vegas” num papel psicologicamente mais desafiador). Glenne Headly e um jovem Terrence Howard deram-lhe um apoio bem-vindo e muito sólido. O filme brilha e comove-nos com a sua história, destacando a importância da música na formação de crianças e jovens, e a relevância do ensino artístico. Numa sociedade onde, cada vez mais, somos apreciados pelo dinheiro que damos a ganhar aos outros, as artes e as áreas das ciências humanas (história e filosofia, por exemplo) são pouco apreciadas porque se considera que têm muito poucas saídas profissionais e aplicabilidade prática. A situação não podia ser mais injusta: as ciências humanas ensinam a pensar e a ter uma consciência crítica e uma cultura geral abrangente, ao passo que as artes nos transmitem sentido estético e uma capacidade de auto-expressão que, ao contrário da escrita, pode e tende a ser universalmente inteligível. É pena que os directores de recursos humanos se revelem, muitas vezes, pessoas tão obtusas e de horizontes tão curtos. O filme aborda a surdez de um modo interessante, mostra-nos que mesmo um surdo pode apreciar música e que a surdez não é impedimento para uma vida activa e feliz. O filme, para mim, têm apenas dois grandes problemas, e ambos residem igualmente no roteiro escrito: o primeiro problema, e para mim o mais grave, é recair nos clichés mais velhos que existem sobre filmes em ambiente escolar ou envolvendo professores, e todo o impacto que eles têm nas vidas dos seus alunos. Isso foi feito, muito mais eficazmente e de maneira impecável, em “O Clube dos Poetas Mortos” e “O Sorriso de Mona Lisa”. Nesse ponto, o ponto mais essencial da trama, não há nada de original e limitamo-nos a ver o mesmo de sempre, mas sob outra perspectiva. O segundo problema é aquela despropositada tensão amorosa entre Holland e uma das suas jovens e sedutoras alunas. Já todos sabemos que a relação entre uma aluna e o seu professor é das fantasias eróticas mais apelativas entre os homens de meia-idade, e consigo compreender porque incluíram essa sub-trama, mas não vem a propósito e nunca devia ter sido incluída no corte final.