Shakespeare Apaixonado (1998)
O amor é a única inspiração.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 23 de Janeiro de 2020**É um bom filme, mas ganhou imensos Óscares que não merecia.** Pegar em Shakespeare e transportá-lo para cinema é sempre um gesto audacioso, eu já disse isso noutras críticas e repito-o. Aqui, no entanto, o que foi transposto para a tela foi o próprio autor. No fim do século XVII, acompanhamos a luta de Shakespeare para sobreviver no meio artístico e literário. Desinspirado e necessitado de dinheiro, tenta escrever uma peça romântica sem sucesso. Tudo muda com Lady Viola, uma jovem aristocrata apaixonada pelo teatro que não se conforma por as mulheres não poderem pisar o palco livremente, decidindo entrar para a nova produção de Shakespeare disfarçada de homem. Claro, o roteiro é inteiramente ficcional e nada disto aconteceu ao verdadeiro bardo. Apesar de o filme ser ambientado na época certa e ter algum rigor histórico no tocante aos cenários e figurinos, o rigor histórico acaba aí. As personagens comportam-se como nós, em pleno século XXI, e revelam a nossa mentalidade, não a de pessoas de há quatrocentos anos atrás. De facto, o filme mistura de forma hábil as duas coisas, tão hábil que pode ser perigosa e dar ao público a ideia de que tudo isto foi verdade ou é baseado em factos reais da vida de William Shakespeare. O filme combina bem um bom romance, o absurdo da história contada e uma forma de humor meio tola que funciona bem e torna o filme leve e agradável. Se você pensar muito acerca dele, tudo se irá desmoronar, portanto é melhor nem o fazer e deixar-se levar. Joseph Fiennes é bom para o material que lhe foi dado e para o que lhe foi pedido. Ele sabe ser romântico quando tem de ser e engraçado quando é preciso. Gwyneth Paltrow é bonita e faz um bom par com ele, eles conseguem uma boa química. Ben Affleck está OK, Geoffrey Rush é engraçado. No lado negativo, Judi Dench limita-se a aparecer porque é preciso e vai fazer de rainha. Agora convenhamos... o filme foi altamente premiado nos Óscares, com sete estatuetas (Melhor Filme, Melhor Argumento Original, Melhor Banda Sonora Original, Melhor Figurino, Melhor Direcção de Arte, Melhor Actriz Secundária, Melhor Actriz). Mas o filme merecia-as? Sinceramente acho que não. O filme é bom, mas não é bom o suficiente para chegar a merecer o prémio mais alto da indústria, principalmente estando a competir com filmes muito mais sérios e pesados como "Elizabeth" ou "Resgate do Soldado Ryan". Da mesma forma, Paltrow não me parece tão boa neste filme quanto Cate Blanchet em "Elizabeth". Judy Dench ganhou quase um óscar de carreira aqui porque nem aparece por dez minutos no filme. Pessoalmente, acho que o filme merecia apenas os prémios de Melhor Argumento Original, Melhor Banda Sonora Original e Melhor Figurino. Mas como não fui eu quem atribuiu os prémios naquele dia...