As Horas

As Horas (2002)

27/12/2002 Drama 1h 54min

73%

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Três mulheres diferentes. Cada uma vivendo uma mentira.

Sinopse

No começo do século 20, Virginia Woolf lida com a depressão e tenta finalizar o romance "Mrs. Dalloway". Seu texto afeta profundamente uma dona de casa dos anos 1950 e uma mulher nos dias atuais, que parece viver os eventos do livro.

Críticas
Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 15 de Fevereiro de 2021

**Um filme excelente, com grandiosas actrizes a interpretarem maravilhosamente… mas com uma série de temas difíceis, soturnos e muito depressivos.** Creio que há poucas escritoras, no século XX, que tenham tido vidas tão conturbadas e trágicas quanto Virgínia Woolf. Nascida em berço dourado, numa família rica, foi abusada sexualmente pelos irmãos mais velhos até ao ponto de se tornar esquiva e depressiva, e de ter desenvolvido esquizofrenia e uma bissexualidade que reprimiu por toda a vida. Uma vida curta, que a mesma decidiu terminar ao afogar-se num rio em 1941. Este filme não é sobre a escritora, mas aproveita a sua vida e um dos seus livros mais notáveis, “Mrs. Dalloway”. O filme conta, assim, um dia na vida de três mulheres de três épocas: um dia na vida de Virgínia Woolf, em 1923, um dia na vida de uma mulher casada em 1951 e um dia na vida de uma mulher que prepara uma festa em homenagem a um amigo, prestes a morrer de SIDA, em 2001. Uma é a escritora do romance, outra é uma leitora que o vai ler, e a outra é uma mulher que, pelas suas atitudes, vai encarnar a personagem principal do livro. É um filme muito profundo, psicológico, muitas vezes sombrio, que aborda sem receios o medo e os traumas, as fragilidades, as depressões e a homossexualidade reprimida. As protagonistas, por razões distintas e à sua maneira, são mulheres deprimidas, que sofrem caladas enquanto o mundo vai girando ao seu redor e tentam fazer o seu papel social e corresponder ao que todos esperam delas. Porém, há sempre um momento de ruptura, onde a vontade de atirar a toalha ao chão é irresistível. Apesar de tudo, o filme é um pouco morno, lento e pouco envolvente até cerca de metade. Outro problema deste filme é a incapacidade, por parte do público, de gostar das personagens. Eu, pelo menos, não me senti emocionalmente envolvido pelo filme. O elenco é encabeçado por três grandiosas actrizes: Meryl Streep, Nicole Kidman e Julianne Moore. As três satisfazem perfeitamente o seu público, com interpretações bem conseguidas. No entanto, como eu disse, são actuações distantes, que colocam uma parede entre o público e o filme. Não é nada que retire mérito às actrizes, mas não ajuda o filme a tornar-se agradável e é um filme que eu dificilmente voltaria a ver, se tivesse escolha. Tecnicamente, é um filme muito bem feito, mas apresenta valores de produção discretos. Tem uma cinematografia nítida e bem construída, bons cenários e figurinos, que nos ajudam a ver e a distinguir as diferentes épocas e contextos. Gostei, especialmente, dos automóveis de época que foram utilizados, e do cenário da casa de Virgínia Woolf, cheio de detalhes decorativos e carinhosamente elaborado. E não posso deixar de salientar a maravilhosa banda sonora, muito particularmente a suite “As Horas”, composta por Philip Glass.