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Syriana: A Indústria do Petróleo (2005)
Tudo tem seu preço.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 29 de Novembro de 2020**Insosso, confuso e desconexo, exige uma enorme dose de atenção do público para se tornar compreensível.** Sinceramente, estava à espera de algo mais em relação a este filme. Tendo sido dirigido e escrito por Stephen Gaghan, vencedor de um Óscar pelo seu trabalho de argumentista, e com nomes tão sonantes como George Clooney e Matt Damon, eu pensei que seria um filme muito melhor e mais interessante do que veio a revelar-se. O problema deste filme, para mim, foi o roteiro exageradamente ambicioso. O filme cruza uma série de histórias que têm em comum a ligação ao petróleo, e aos jogos políticos, económicos e de interesses que estão por detrás dele: tudo começa com um conflito pelo poder entre dois irmãos, filhos de um xeque. Um é um incapaz, mas está disposto a permitir que o petróleo do país seja controlado por empresas estrangeiras, enquanto o outro quer controlar o petróleo e usá-lo em benefício do reino. Quando uma empresa norte-americana é preterida por um consórcio chinês que apresentou uma oferta melhor, os EUA decidem interferir e mandam um agente da CIA para o terreno. Há ainda um subenredo que envolve um grupo de trabalhadores imigrantes e outros detalhes a ter em conta. Gaghan quis dar um passo maior que as próprias pernas e não foi capaz de estar à altura do desafio que impôs a si mesmo. A forma como fez o roteiro não foi feliz e resultou numa história desconexa, dispersa e confusa. A certa altura, eu já não sabia qual a associação entre as personagens e o que estava em causa, e tive de esforçar-me para não perder o fio condutor. O filme também faz uma série de críticas à forma como o petróleo é mal gerido enquanto recurso e à quantidade de conflitos em nome dele, mas isso até acabou por ser a parte mais interessante e compreensível do filme. O elenco tem nomes de peso, mas saem prejudicados pela má construção das personagens e pela história insossa e desinteressante. A ligação entre as personagens e o público é escassa: eu apenas consegui ter alguma simpatia pelo príncipe reformista, foi a personagem que mais me tocou e foi muito bem interpretado por Alexander Siddig, um dos nomes menos notáveis do filme. George Clooney é outro grande actor e o filme rendeu-lhe o único Óscar que ganhou como tal (Melhor Actor Secundário), mas custou-me entender o que ele fazia aqui e, para ser sincero, achei um desempenho apagado e desinteressante, principalmente se pensarmos em outros filmes incríveis onde entrou (*Ocean’s Eleven*, *Monuments Men*, etc.). O mesmo se pode dizer de Matt Damon, que tem a personagem mais estranha do filme: um empresário que, após perder um filho num acidente na casa do príncipe árabe, é contratado por ele como forma de compensação e acaba por se tornar amigo dele. Há muitas questões morais em torno deste subenredo e quase poderíamos acusar a personagem de subir na vida à custa da morte do próprio filho. Damon, indiferente a tudo, deixa um desempenho insosso e adormecido. Christopher Plummer, William Hurt, Chris Cooper e Jeffrey Wright também aparecem no filme e fazem um trabalho decente, mas não é o filme certo para brilharem e não há muito o que possam fazer para o salvar. O filme não me parece tecnicamente brilhante. A cinematografia é boa, mas não surpreende nem encanta. Os cenários e os figurinos são bons e realistas, o uso de cenários reais e de filmagens em locação foi um bónus bem-vindo, que traz uma dose adicional de realismo e credibilidade. Os efeitos usados são bons o suficiente, mas não são notáveis. O ritmo é bom, e não é por ter mais de duas horas de duração que se torna maçador ou aborrecido. Há cenas intensas pontualmente, e isso inclui a morte de uma criança num acidente e uma cena de tortura, bastante realista e muito bem feita. Para mim, essas cenas também foram um bónus, assim como o uso da língua árabe, raramente aproveitada em cinema.