A Malvada
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A Malvada (1950)

09/11/1950 Drama 2h 18min

81%

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É Tudo Sobre Mulheres... E Seus Homens

Sinopse

Margo Channing é uma reconhecida atriz da Broadway que está envelhecendo e Eve Harrington é uma jovem fã que consegue se infiltrar na vida de Channing e que acaba ameaçando sua carreira e relacionamentos pessoais. Filme baseado na obra The Wisdom of Eve, de Mary Orr.

Joseph L. Mankiewicz

Diretor

Darryl F. Zanuck

Produtor
Críticas
Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 15 de Outubro de 2022

**Apertem os cintos: este é um dos melhores filmes do século XX.** Não há muitos filmes perfeitos: eu, pelo menos, não conheço muitos. Todavia, este filme é quase seguramente um deles. Fruto de uma conjugação ideal de factores, que harmoniosamente se uniram para o tornar numa obra de arte, é um filme atemporal que se vê tão prazenteiramente hoje como há cinquenta anos. Mas, quando falamos em filmes clássicos, está bem longe de ser um dos primeiros a vir ao pensamento. Qual a razão? É difícil de explicar, mas sinto que o filme nunca tocou realmente o coração do grande público. O filme merece mais atenção hoje em dia e vale a pena vê-lo. Não sou um daqueles que mede a qualidade de um filme pelos prémios que recebe (ainda que os prémios sejam, sempre, um indicativo a considerar quanto à qualidade)… mas o filme é um dos mais nomeados para o Óscar, com catorze nomeações, feito que só muito raras vezes foi igualado, e seis estatuetas conquistadas, incluindo a de Melhor Filme. O filme começa por nos mostrar uma cerimónia em que uma actriz, Eve, recebe um importante prémio pelo seu desempenho no teatro. Depois, a acção recua um ano para, em flashback, nos dar a conhecer tudo o que sucedeu até àquele momento. E é assim que acompanhamos toda a ascensão de Eve, uma aspirante ao palco de origens obscuras que consegue suscitar a piedade e simpatia da actriz Margo Channing, então a maior estrela dos palcos. O filme explora bem as duas personagens, e a forma como se relacionam. Eve é bastante ambígua por parte do filme, e mesmo depois de vemos o lado mais sombrio da personagem. Margo parece uma megera muito insuportável, mas a personagem tem um bom coração, escondido sob toneladas de ego e tiques de grande diva do teatro. Baseado num conto e inteligentemente desenvolvido por Joseph Mankiewicz, director que vai assegurar o roteiro, o filme conta com um excelente elenco e diálogos memoráveis, cheios de frases citáveis que provavelmente já ouvimos algures por aí. O elenco é liderado poderosamente por Bette Davis, uma actriz extremamente talentosa, carismática e cheia de personalidade que deu tudo de si neste filme, conseguindo alcançar aqui, na minha perspectiva, o seu trabalho de glória. A diferença entre Margo, a personagem, e Davis, a pessoa real, é tão fina que quase que podemos dizer que a actriz pegou na personagem e trouxe-a um pouco para a sua própria vida. É um exercício dramático verdadeiramente soberbo, e o mesmo se aplica àquele que nos é dado pela sua co-protagonista, Anne Baxter, que dá vida a Eve. A forma como ambas colaboram nas suas cenas é hipnotizante. Também gostei bastante de Celeste Holm, George Sanders e Hugh Marlowe, muito embora os homens deste elenco não estejam tão fortes quanto as contrapartes do sexo feminino. Sendo um filme a preto e branco, isso pode desagradar um pouco ao público actual, mas não é algo que eu encare como um problema. Pelo contrário, gostei muito da cinematografia e penso que o filme tem muita elegância e beleza visual. Há algumas cenas e movimentos de câmara que eu estranhei, mas penso que alguns são realmente pouco usuais em filmes desta época. Quanto aos figurinos, gostei bastante da forma como se adequam à história, sendo que alguns figurinos e vestidos das actrizes são peças dignas da alta costura. O filme tem algum humor implícito, que pode escapar aos mais desatentos, como aquela peça de piano que Davis, embriagada, ouve por várias vezes para, mais tarde, a apelidar de “sentimentalismo barato”.