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Butch Cassidy (1969)
Não que isso importe, mas a maior parte é verdade.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 9 de Abril de 2024**Único dentro do género ‘western’, entendemos melhor este filme à luz da época em que foi feito.** Butch Cassidy, Sundance Kid e o gangue de Hole in the Wall fazem parte da “Galeria da Fama” dos grandes bandoleiros e salteadores do Velho Oeste. Eles fizeram um percurso criminal longo, variado e violento, com espectaculares assaltos a comboios, diligências e bancos antes de se mudarem para a América do Sul, onde gastaram o dinheiro todo e logo voltaram aos velhos hábitos. Foram perseguidos pelas autoridades da Argentina, do Chile e da Bolívia, onde aparentemente encontraram a morte às mãos de uma força da lei. E eu digo “aparentemente” porque, de facto, há diversas teorias que dizem que os dois ladrões, de algum modo, sobreviveram e que podem ter retornado ao solo norte-americano sob a capa de novas identidades. As verdadeiras lendas são assim, são difíceis de matar e, até na morte, encontram maneira de sobreviver e perdurar no nosso imaginário. Dirigido por George Roy Hill e escrito por William Goldman, o filme é bastante bom e está muito bem feito, tentando seguir o percurso dos dois assaltantes. Todavia, está bem longe de ser um retracto fiel dos factos, dando-nos em vez disso uma história simpática para com os ladrões e sem o patriotismo enfunado dos filmes ‘western’. É preciso considerar que o filme foi feito e lançado em 1969, em meio às contestações sociais que ocorreram em virtude da Revolução Sexual e da contestação aos valores e conceitos convencionais da sociedade e, também, à participação dos EUA na guerra do Vietname. Numa época de crítica social e política, em que muitos se sentiam envergonhados pelas atitudes dos EUA e do seu governo, o filme transforma cada assalto de Cassidy e Kid num acto de rebeldia, de luta contra o 'establishment', de desobediência e contestação às autoridades. Claro, é uma forma de ver as coisas que nunca passou pela cabeça dos bandidos e ignora questões éticas e morais em torno de uma eventual glorificação do crime, além de esquecer as vidas inocentes que Cassidy e Kid foram ceifando. O director Hill fez um trabalho muito elegante, principalmente ao nível da cinematografia e do tratamento da imagem. Observem-se os créditos iniciais, ou a sequência de abertura em sépia, e a maneira como a cor é introduzida gradualmente durante uma cavalgada. Os cenários, os adereços e os figurinos também são muito bons, apesar de eu ter dúvidas em torno do rigor histórico com que foram pensados. Há cenas que não consigo entender de outra maneira a não ser como piscadelas deliberadas aos ‘hippies’, sendo a mais óbvia de todas aquela cena da bicicleta, ao som da sugestiva melodia “Raindrops Keep Falling on My Head”. E convenhamos, há mais momentos cómicos do que propriamente acção. Para mim, a maior razão para ver este filme, hoje aparentemente tão bizarro, é a actuação impecável de Paul Newman e de Robert Redford, dois grandes actores que conhecemos bem e cujo talento é reconhecido por todos. Este não é um dos melhores que um ou outro protagonizaram, cada um deles fez trabalhos melhores, antes e depois, sejam eles cómicos ou dramáticos. Porém, a maneira como Newman e Redford contracenam e interpretam é o grande ponto forte do filme. É notável a parceria dos dois actores, e a maneira como se desembaraçam de cada desafio. O filme conta, ainda, com um bom trabalho de Katharine Ross, que estava a vivenciar o auge da sua carreira artística.