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Vicky Cristina Barcelona (2008)
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 24 de Agosto de 2018**Um bom filme romântico** Woody Allen é um daqueles directores que amamos ou odiamos. Confesso, sou a excepção: não gosto nem odeio, nunca tive muito contacto com ele. Este filme foi, creio eu, o primeiro dos trabalhos dele que vi... e gostei. Tem um roteiro algo irrealista mas aceitável, onde duas jovens americanas se envolvem com o mesmo homem durante uma viagem a Barcelona. Ambas estão insatisfeitas com a sua vida amorosa, por diferentes razões: Vicky dá grande valor ao compromisso mas sente falta da paixão; Cristina é muito apaixonada, mas não consegue prender-se a uma relação séria. Nessa dualidade está a crítica do filme faz ao vazio da sociedade, descrita como conservadora e preocupada com as aparências. Do outro lado temos Juan Antonio e a sua ex, a neurótica Maria Elena. O amor deles é profundo mas tão destrutivo que não conseguem viver sem brigas melodramáticas. Por via deles, Allen critica o modo de ser europeu, descrito como sendo muito liberal. O filme todo é um choque de mentalidades de pessoas diferentes, representando modos e maneiras muito diferentes de encarar o amor. Claro, tudo isso é baseado nos próprios pontos de vista do director. Eu, por exemplo, tenho uma ideia diferente do que são os europeus e os americanos e não acho que sejam assim tão diferentes. Não devemos esquecer que a sociedade americana foi moldada à imagem da Europa e que, em anos mais recentes, a sociedade americana impôs padrões ao mundo todo através da globalização. Nunca a Europa me pareceu tão liberal quanto o filme sugere, e até os países latinos são conservadores, em parte por questões religiosas, embora seja verdade que estão a tornar-se mais liberais (talvez demasiado). Mas isso só prova que essas ideias são pontos de vista subjectivos. De qualquer forma, a maneira como as personagens se comportam é interessante, criando situações hilárias. O narrador funciona bem e tem uma boa voz. Em relação aos actores, todos são grandes. Bardem e Cruz, no entanto, merecem aplausos especiais pela forma como se destacam, dando vida a algumas das cenas mais engraçadas. Rebecca Hall fez um bom trabalho no papel da convencional Vicky, dando-lhe uma profundidade psicológica forte. Scarlett Johansson cumpriu o seu papel, não surpreendentemente, mas também sem decepcionar. Uma nota de louvor ainda para a cinematografia, muito cuidadosa, e a escolha dos locais de filmagem, que aproveitaram bem as paisagens e os ícones turísticos da capital catalã. Inteligente, lindo, apaixonado, romântico, elegante... há vários adjectivos para este filme. Não é o suficiente calar a boca daqueles que odeiam Woody Allen, mas para aqueles que, como eu, não estão familiarizados com o seu trabalho, basta para lhe dar mais atenção a partir de agora.