Disney Plus
Tron: Uma Odisseia Eletrônica (1982)
Um mundo dentro do computador onde o homem nunca esteve. Até agora.
Sinopse
Filipe Manuel Neto
Escrita em 31 de Agosto de 2022**Outrora vanguardista e inovador, este filme parece arcaico e velho como um jogo arcade, com um roteiro absolutamente miserável.** Não sei bem o que estava a Disney a pensar quando resolveu fazer este filme, mas compreendo o conceito e os motivos que levaram o estúdio a apostar em algo assim. Nos anos 80, a criação e gradual massificação do computador (um enorme caixote que vemos no filme e que é agora primitivo se comparado às máquinas que usamos) gerou uma “febre” em redor da informática e levou à criação de jogos que, depois, a rede mundial de Internet levou a outro patamar. O filme saiu quando os computadores pessoais começaram a popularizar-se nos EUA, mas aqui no meu país isso demorou uns quinze anos. É extraordinário pensar nisto, e na rapidez com que as coisas evoluíram. Eu tenho trinta e dois anos, sou de uma geração que ainda viveu a sua infância sem tecnologias, mas era adolescente quando eles começaram a tornar-se algo mais visíveis na nossa vida. Por isso, consigo entender porque este filme foi feito, mas tratando-se de um filme da Disney, eu confesso que estava à espera de melhor. O filme conta com um elenco pouco inspirado e composto por actores de terceira categoria. De entre todos os nomes (quase) anónimos só se destaca David Warner, que conheci minimamente pelo seu papel em “Titanic” e que se destaca, neste filme, por parecer tentar interpretar algo mais consistente e mais sério, sem grandes resultados. O filme conta ainda com uma das piores interpretações dramáticas da vida de Jeff Bridges. Ele era ainda jovem aqui, mas o material e o estilo de filme não o ajudaram a fazer um trabalho satisfatório. De facto, eu culpo os roteiristas pela maioria dos problemas do filme, visto que não conseguiram criar uma história decente que justificasse a longa-metragem. A história que o filme nos traz baseia-se na viagem de um ser humano por dentro do computador, onde terá, basicamente, de jogar e vencer oponentes. Isto é muito pouco e aborrece-nos rapidamente. Parece uma mera desculpa para o estúdio fazer uma experimentação no campo do CGI e da aplicação da informática no cinema. Onde o filme realmente aposta forte é nos visuais, fortemente estilizados e muito inspirados por dois elementos óbvios: os circuitos integrados utilizados em informática e as coloridas e (agora) um pouco esquecidas luzes de néon. Nestes saudosos anos 80, o néon era algo que chamava a atenção na paisagem urbana, e não havia rua ou praça onde, ao anoitecer, não se iluminassem dezenas de reclames de néon. É algo que virtualmente desapareceu na última década, mas que dava à cidade um certo colorido. Eu confesso que senti certa nostalgia ao sentir, neste filme, as influências estéticas desse colorido, mas reconheço que o filme tentou fazer algo muito à frente do seu tempo: a própria Academia de Hollywood se recusou a nomear este filme para o Óscar por considerar que o CGI era uma forma de batotice. E talvez também por o terem feito cedo, os recursos usados eram tão rudimentares (mesmo sendo o melhor que existia) que deram ao filme um visual extremamente pesado e datado, que envelheceu muito mal. O mesmo se pode dizer dos efeitos sonoros e até daquela banda sonora, tão dominada pelo sintetizador.