Alien: O Oitavo Passageiro
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Alien: O Oitavo Passageiro (1979)

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01/01/1979 Ficção científica, Terror 1h 57min

82%

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No espaço, ninguém te ouvirá gritar.

Sinopse

Quando a tripulação da sonda espacial Nostromo responde a um pedido de socorro vindo de um planeta inóspito, eles descobrem uma forma de vida mortal que se reproduz dentro de humanos. Agora, a tripulação deve lutar para permanecer viva e impedir que a criatura chegue até a Terra.

Gordon Carroll

Produtor

David Giler

Produtor
Sessões
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Críticas

Escrita em 14 de Março de 2023

Alien – O Oitavo Passageiro” (1979) de Ridley Scott, unindo os dois gêneros, conseguiu ser o primeiro filme de ficção e terror “para adultos” a alcançar Oscars e ter uma receita de quase 10 vezes o custo da sua produção, algo raro até então para os gêneros (o caso de Star Wars era uma exceção absoluta na ficção e no terror isso nunca tinha acontecido). Ao lado de Blade Runner”, Alien” é o grande marco artístico do renomado Ridley Scott. Bem antes do supervalorizado Gladiador”, o realizador já mostrava ser um diretor muito acima da média. No seu ficção/terror de 1979 (apenas o seu segundo filme), Scott deu-nos um dos mais influentes filmes de terror de todos os tempos, principalmente graças à direção de arte com participação de H.R. Giger, que se tornou referência. A escolha do artista plástico suíço H.R. Giger para o design do “xenomorfo”, foi para além de sua capacidade absurda como um criador de figuras rebuscadas e assustadoras somente, mas, sim pelas características visuais sexuais na sua obra. Visto em obras como Necronom IV de (1976), (que servira de base para Alien) é mostrado o aspecto claramente fálico da cabeça do “alien”, isto somado á sua boca interna de falicismo similar. Sexo é relação de poder aqui. A demonstração do interesse pelo poder. Onde a empresa Weyland-Yutani junta esforços para a aquisição deste ser. Controle. Estupro. O alcance deste filme é absurda. Além da política latente, existe esta questão absolutamente sexual, que não somente o alien é a representação, mas as ações de alguns personagens deixam isso no óbvio da violência. Como quando Ash decide eliminar Ripley com uma revista erótica enfiada na boca numa sala cercada de pôsteres de mulheres seminuas. É a imposição de poder através da violência sexual. O alien vai matando a tripulação fisicamente, numa dança sexual da morte em movimentos eróticos. Esta dança sexual e o abuso do alien naquele ambiente carregado de terror, tecnologia e política, servem de molde harmónico para uma estruturação bem característica e sofisticada daquilo que o terror pode proporcionar quando quer alçar “voos altos”. Esta arte de raciocinar com método é extraordinária. Nada mais que um monstro “fálico” assassino, com estratégia abusiva tendo sido criado por uma empresa tencionada com a expansão colonial. A criatura acaba por resistir e defender-se. Mas, muito além disso, Alien” é uma verdadeira aula cinematográfica de construção de personagens, clima e enquadramentos. Já nos créditos da abertura do filme vemos uma marca de Alien: a “construção paciente”. Nos planos que abrem o filme, as letras surgem lentas, que levam mais de um minuto para aparecerem e formarem o título do filme. Tal construção visual lenta gera ansiedade, que é o sentimento básico para cativar o público que vê. Mais adiante, o primeiro contato que temos com humanos leva tempo. Ridley Scott escolhe passar vários planos que mostram a nave Nostromo. Após cinco minutos, vemos então a tripulação acordar da hibernação induzida. Todos fazem muito bem as suas funções a que são “sacrificados” pelo poder do outro por seguirem a suas condutas de trabalho e obediência. Em outros momentos, quando a câmera foca vários personagens, Ripley está quase sempre no fundo do quadro, sempre sendo solidária em relação aos outros, principalmente Dallas e Kane. O objetivo é claro: Ripley, no momento, é apenas mais uma tripulante da Nostromo, a jornada para tornar-se a protagonista e heroína do filme é construída cautelosamente, assim como a ascensão do vilão. O curto elenco põe em cinema toda a diversificação proposta por Scott com o uso de alguns “retratos” colocando-os em contornos pervertidos e sarcásticos em relação à política laboral/expansionista da empresa. Cada um deles bem trabalhado, apesar do pouco tempo em cena de alguns. Alien, só entra em cena aos 56 minutos(!), numa das mais belas cenas de introdução de um vilão que me recordo de ter assistido. E é justamente nesta parte que há uma grande inversão na dinâmica do filme. A chegada do vilão, muda o comportamento de todas as personagens a bordo. Ripley, passa a ser menos passiva e mais dominante, tentando resolver os problemas da nave. Após a grande revelação, nota como há uma enorme inversão de papéis no posicionamento dos atores. Ripley agora é o ponto de referência do quadro. Para compor o todo planeado, a parte técnica é esquema primordial. Esplendorosa fotografia de Derek Vanlint com ajuda de Scott, – o diretor teria assumido grande parte da fotografia – que reune um universo sujo e semelhante proposto, onde a claustrofobia é um mecanismo de exclusão física dos espaços, e que os seus conceitos vão sendo alimentados pela violência crescente do seu monstro principal. Somada ao ótimo processo de edição de Terry Rawlings, moldando o desconhecido como um vulto inicial elevando a sua presença física nos limiares das existências dos tripulantes. A questão física tanto dos espaços quanto do alien aqui, são explicitados propositadamente diante deste universo é coerente. O combate entre os espaços, o diálogo reduzido fechado com o sobressair do conhecido monstruoso, além dos reverenciados efeitos visuais. Um dos grandes trabalhos visuais já intencionados e criados no cinema. Seguido a este processo está a direção de arte espetacular que cria um sem-número de artefatos que falam com toda proposta narrativa. Além de conterem a veracidade cénica absurda na verosimilhança daquele universo. Já o clima de terror trabalhado a partir da metade final é uma verdadeira aula. Ao assistirmos a Alien, voltar a ver obras reles como Atividade Paranormal” e filmes genéricos de bonecos possuídos chega a enjoar. Se hoje o gênero se baseia em “jumpscares”, nesta obra aqui o foco é a construção de um clima ameaçador. A manutenção do silêncio das personagens acompanhada por barulhos de gotas d’água e batimentos cardíacos cria a expectativa da chegada de algo mau a qualquer momento. Também ajudam os planos com câmera subjectiva, que jogam o público na pele dos sobreviventes da nave. A fotografia escurecida, que muitas vezes só é iluminada por baixas luzes narrativas mas bem escondidas, quase deixadas no extra-campo, fortalece tal atmosfera soturna já existente pelo design de som. Os planos close-up que focam nos rostos das vítimas do monstro também são muito eficientes na criação de uma sensação de vulnerabilidade. Para surpreender seu espectador, Scott sempre retrata os seus atores observando o cenário em busca do alien para, em seguida, nos mostrar com planos subjetivos o que estes vêem. Estes planos subjetivos, no entanto, chegam a trazer outros pontos de vista, confundindo o espectador e criando mais tensão. Em certos momentos, estamos sob a ótica do próprio alien e até do gato, o que nos causa incerteza. Quando o ataque ocorre, porém, nunca somos avisados pelas reações das personagens, que acabam por descobrir o paradeiro da criatura depois do próprio espectador. E não esquecer da ótima banda sonora de Jerry Goldsmith que exalta muito bem o clima característico da ficção de terror. Uma composição “colérica”. Alien não é só um bom filme de terror com ficção científica, é uma aula de cinema. Uma construção narrativa impecável que sabe desenvolver a sua heroína e o seu antagonista com calma, guardando-os para praticamente a metade final da filme. Ridley Scott aqui tem um bom argumento em mãos e maximiza os seus pontos fortes por ser capaz de dar sutileza aos momentos que poderiam ser mais expositivos (como as reações de Ash a qualquer possibilidade de ferimento aos aliens). Cinema é a arte da construção do tempo pelo audio-visual, e Scott sabe controlar tais elementos como poucos. O resultado é uma obra-prima do terror que merece ser revisitada e valorizada.

Filipe Manuel Neto

Filipe Manuel Neto

Escrita em 21 de Abril de 2023

**Um dos grandes fundadores do sci-fi moderno.** Quem me conhece já sabe que eu não gosto muito de filmes com temática alienígena, até porque não acredito rigorosamente em vida inteligente fora do nosso planeta. No entanto, o tema já rendeu muitos filmes de terror ou ‘suspense’ de qualidade. “Alien” é, seguramente, o melhor, o mais bem executado e o mais consagrado e culturalmente significativo de todos eles. É um daqueles filmes que já ultrapassou as questões cinematográficas para se transformar numa peça de arte e cultura que todos conhecemos, até as pessoas que nunca dispensaram algum tempo para o verem. Assim, não vale a pena perder tempo a explicar o enredo em redor da “Nostromo”, cargueiro com sete tripulantes que são dizimados por um alienígena altamente perigoso e carnívoro. A direcção, a cargo de Ridley Scott, é excelente, meticulosa, atenta, e a história é inteligente, muito bem escrita e com personagens bem desenvolvidos e aproveitados. Ao contrário do que acontece noutros filmes, vemos as personagens a tentarem agir em equipa, e a tentar dar solução a uma situação inesperada e perigosa. Eu nunca senti que eles estivessem a agir de maneira a colocarem-se em perigo quase propositadamente, coisa que acontece bastante nos filmes de terror mais recentes. Sigourney Weaver fez uma excelente carreira dramática depois deste filme, que a consagrou como actriz e lhe abriu portas na indústria. Uma recompensa merecida, posto que ela se empenha ao máximo e dá a esta personagem toda a resiliência, humanidade e carisma que merece e necessita. Apesar da qualidade geral do elenco ser bastante boa, não há quase nenhum actor capaz de ombrear com Weaver. No que diz respeito aos aspectos técnicos, o filme tem uma excelente cinematografia (até parece mais novo do que é) e efeitos especiais e visuais realmente muito bons, considerando que não há nenhum CGI e que tudo é feito como antigamente. Por fim, uma palavra de louvor para a icónica banda sonora original composta por Jerry Goldsmith.